Isabel Alçada esteve ontem no Parlamento, onde anunciou uma série de medidas aparentemente simpáticas, como a criminalização do bullying e os reajustamentos nos currículos do ensino básico. Estes anúncios tiveram ampla cobertura mediática. O mesmo não se pode dizer das declarações da ministra em relação à sua intenção de acabar com os chumbos. Alçada referiu que a repetência é "um mal que gera conflitualidade".
Passando por cima da justificação da ministra, que é do mais esfarrapado que há, seria conveniente saber três coisas: quais são as reais intenções de Alçada em relação aos chumbos; por que é que a comunicação social não deu destaque a tal afirmação; e por que é que os deputados a não inquiriram sobre este assunto. A questão dos "chumbos" (ou "retenções" como agora se diz na novilíngua do eduquês) não é um assunto menor, pelo contrário, é talvez o mais importante de todos. Por isso a ministra deveria ter sido escrutinada, quer em relação à sua intenção, quer em relação ao facto de aparentemente estar a decidir coisas nas costas dos portugueses.
Apesar de ser cada vez mais dificultada, devido às pressões indirectas do ME e às gigantescas montanhas de papel que provoca, a retenção dos alunos foi a única coisa que o poder socialista, instalado na 5 de Outubro, nunca teve coragem de eliminar. Mas está quase a consegui-lo, pois ao longo dos anos tem movido uma perseguição velada aos professores que chumbam alunos. Não é por acaso que as taxas de retenção descem todos os anos, ao passo que a ignorância dos alunos varia inversamente. Os poucos chumbos que ainda sobrevivem são o último resquício da exigência que outrora existia no ensino básico.
Se os chumbos desaparecerem por completo, será a machadada final na qualidade da escola do Estado. Desaparecerá o mérito e a diferenciação. Estudar ou não estudar não fará diferença, ensinar bem ou não, será facultativo. Os professores mais exigentes e rigorosos perderão toda a sua autoridade e com o tempo tenderão a desaparecer. Muitos não estarão para se sujeitar ao enxovalho de exigir coisas para depois não haver qualquer tipo consequências do seu incumprimento. Os alunos cumpridores migrarão para o privado, os que não puderem migrar serão os totós de serviço, rodeados de cábulas e preguiçosos por todos os lados.
O fim dos chumbos corresponde ao último estágio da implementação da Escola Socialista em Portugal, pois é a sua consequência natural e o expoente máximo do igualitarismo.