Sem grande esperança de encontrar seres esclarecidos, entro na Cinemateca
e, sem grandes modos nem maneiras de maior, pergunto ao rapaz da bilheteira
(que, para meu espanto, não pertence àquele grupinho de gente que estudou uma
qualquer Ciência Sócio Humana e, por casmurrice, trabalha naquele balcão para
continuar ligado à cultura) se sabe onde é a Sinagoga.
- Si-na-go-ga? Olhe que não lhe sei dizer.
-Mas disseram-me que era perto da Cinemateca. E estamos na Cinemateca.
Nisto salta um intelectual do Rato, daqueles que são metade betos, metade
artistas.
- Sinagoga? Mas isso é de rezar, não é? – pergunta o tipo, a juntar as
mãos, como um devoto de Fátima.
-É, é de rezar. É onde se reza.
- Já sei. Está de carro ou a pé?
- A pé. Vou a pé para todo o lado.
- Mas, olhe, é um bocado longe.
- Tudo bem. De certeza que não é tão longe como Jerusalém.
- É melhor apanhar um táxi. Tá a ver onde é a
Praça de Espanha?
- Tou.
E “tou” também a adivinhar o resto do história.
-Mas aí o que existe é uma Mesquita.
- Então mas não é do Islão? - pergunta-me como quem quer confirmar se se trata do Estádio de Alvalade ou do Estádio da Luz.
- Não. Eu perguntei pela Sinagoga.
Nisto vem um velhote curvado e coxo que tão depressa aparece para nos dizer onde é a
Sinagoga, como tão depressa, sem se despedir, desaparece.