"Escutem a música da linguagem. Vai-vos ajudar a aprender Hebraico", avisa o professor Yossi. Quem diz a música, diz a lógica da linguagem. Afinal de contas, tudo tem uma lógica, uma regra, uma razão de ser. "Embora existam sempre exceções para nos relembrar que existe uma razão para ser assim" acrescenta ainda o professor, com voz de trovão, a dar e dar com a mão.
Afinal cumpre às palavras o ato de perguntarmos e protestarmos o porquê, cabe aos idiomas incidir luz sobre as coisas, exigir clareza às coisas - pressionar a vida para se deixar de coisas. Entendido e entranhado isto, podemos então expressar-nos e mover-nos num mundo onde tudo onde está por algum - ainda que, às vezes, oculto - motivo. Mesmo a morte, digo agora eu, a própria morte está aí para nos fazer passar o alerta de que há que que ter pressa e acabar agora o que talvez não possamos sequer começar amanhã e, ao mesmo tempo, ter paciência pelo que, no passado, não fizemos e provavelmente no futuro não teremos oportunidade de sequer pensar.
Parece absurdo, mas nem podemos tocar no que aconteceu antes, nem nos é dada nenhuma garantia que podemos tocar no que amanhã nos pode vir ou não a esperar. Há muito mais mundo do que aquela pequena porção que nos é dada e que tomamos como um banquete. Tanto assim que, tal como os Irlandeses cultivam barriga de cerveja e os Israelitas barriga de Húmus, todo o cidadão do mundo se acha em pleno direito de encher a barriga de universo.
Eu cá contento-me em compreender o bastante as coisas para não perder as estribeiras com qualquer coisa mundana. É um silogismo tão simples como ser Segunda-Feira, noite de Segunda-Feira, e, por isso, predominar a fauna mais infame nas ruas. Ciente disso, assumo que a fila do supermercado vai demorar mais do que o costume e o "muffin" que, dadas as horas, está a metade do preço pode também custar-me uma pilha de nervos. Que é precisamente o que pagam os rapazes à minha frente que, apesar de já estarem aqui há uns dez minutos, por agora já passarem das dez da noite, não podem mais comprar álcool. A culpa é do "cretino" (palavras deles, pois eu mantenho a serenidade de quem sabe como as coisas são) que demorou dois dias para conseguir passar o cartão com que comprou um - cito - "chocolatito".
A culpa, seja em que dia da semana, nunca morre solteira. Há sempre alguém a quem apontar o dedo, quer estejamos numa fila indiana, quer estejamos numa infame fila de Segunda-feira à noite.
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