Ainda sob a forma de ciclo, vamos começar esta crónica, a quarta desta série, com o assunto com que demos por terminada a terceira: o caráter do povo Judeu.
Mau grada a teimosia em doses industriais, um dos principais valores - que, de resto, tem sobrevivido a ventos e tempestades anti-semitas - da herança Hebraica é o da flexibilidade. O de se acostumar a qualquer circunstância, por nunca se saber que aguardar no dia de amanhã, por se desconhecer se se vai e onde se vai acordar no dia seguinte.
Chamemos-lhe a sabedoria da areia, tesouro de quem habita nesta terra há muito tempo e tem os dedos calejados pelo dia-a-dia no deserto.
Ciente deste valor, pedi ao professor Yossi para mudarmos a aula de Quarta para Segunda-Feira. A coleguinha irlandesa, após consultar a agenda pessoal, aceitou. Enfim, foi um processo tão fácil que até se juntou um terceiro pupilo (Talmid, em Hebraico), metade Inglês, metade Israelita.
Um tanto ou quanto culpado e envergonhado, sarcástico como sempre - santíssima trindade dos sentimentos semitas - pedi desculpa por me ausentar pelo simples fato de querer celebrar o meu aniversário com os que me são queridos e não ter como mudar a data do meu nascimento, por ser demasiado tarde (mais de trinta anos de atraso!) para emendar o erro.
Podia ter sido ainda mais cáustico e acrescentar que, por estar a decorrer o torneio de matraquilhos da empresa, ainda ter pensado em cancelar as férias. Mas isso certamente já soaria a cinismo aos ouvidos do professor Yossi. Assim soou a sinceridade. A frontalidade. Que é outro forte daqui da casa.
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