Por João Monteiro.
Ariel Sharon foi um comandante militar exemplar e um
político determinado em defender até às última consequências os interesses de
Israel.
Relembro aqui um pequeno episódio cuja causa do
que se lhe seguiu lhe foi atribuída por todos aqueles que, de todos os
quadrantes, fazem constante campanha global contra o Estado de Israel e os que
o defendem tenazmente.
Antes de deixar a Presidência e numa tentativa de
fazer avançar o processo de paz entre Israelitas e Palestinianos, o Presidente
americano Bill Clinton fez um convite ao Primeiro-Ministro de Israel, Ehud
Barak, e ao Presidente da Autoridade Palestiniana, Yasser Arafat, para uma
cimeira em Camp David que teve início em 11 de Julho de 2000.
Nessa cimeira, o Primeiro-Ministro Barak fez um
conjunto de concessões a Arafat que excedeu tudo o que antes tinha sido feito:
a retirada de Israel de 95% da Judeia e Samaria (Margem Ocidental) e de toda a
Faixa de Gaza; a criação de um Estado Palestiniano nesses territórios; o
desmantelamento de aldeamentos isolados na Judeia e Samaria e a transferência
desse território para a Autoridade Palestiniana; o controlo palestiniano sobre
Jerusalém Oriental incluíndo a maior parte da Cidade Velha e a “soberania religiosa”
sobre o Monte do Templo. Em troca Arafat tinha que declarar o fim do conflito e
concordar em não fazer mais exigências a Israel no futuro. Mas, para espanto de
todos, incluindo os mediadores americanos, Arafat recusou a proposta, continuou
a insistir na exigência do “direito de regresso” dos refugiados palestinianos a
Israel, escolhendo não negociar nem fazer qualquer contra-proposta e abandonou
a cimeira. A cimeira terminou a 25 de Julho sem que tivesse sido alcançado
qualquer acordo. O terreno estava preparado para os acontecimentos que se
sucederam a partir de Setembro de 2000.
A 27 de Setembro de 2000, a explosão de uma
bomba colocada junto à estrada perto de Netzarim na Faixa de Gaza, matou o
sargento israelita David Biri. No dia seguinte, na cidade de Kalkilya, na Judeia
e Samaria, numa patrulha conjunta composta por um polícia palestiniano e por um
polícia israelita, o polícia palestiniano abriu fogo sobre o seu colega
israelita, matando-o.
Nesse mesmo dia, 28 de Setembro, Ariel Sharon, líder
do Likud, fez uma visita ao Monte do Templo em Jerusalém. Esta visita foi
antecipadamente divulgada e comunicada aos líderes palestinianos que a ela não
se opuseram. De facto, o Ministro israelita da Segurança Interna, Shlomo Ben-Ami,
contactou o chefe da Segurança Palestiniana, Jabril Rajoub, que lhe assegurou
que, desde que Sharon não entrasse nas Mesquitas, não haveria problemas. Nessa
conformidade, o Primeiro-Ministro Ehud Barak deu a sua autorização à visita.
Apenas um parêntesis para notar que não deixa de ser
espantoso que um israelita necessite de todo este “aparato” para visitar, no
seu próprio país, o local que os israelitas mais acarinham por ser o local mais
sagrado para os judeus de todo o mundo, como é o Monte do Templo em Jerusalém,
situação que tem como causa primeira o ódio dos árabes aos judeus mas que,
lamentavelmente, Israel ajudou a manter ao ter entregue a administração do
Monte do Templo ao conselho muçulmano Waqf após a reconquista de Jerusalém em
1967.
A visita demorou 34 minutos e decorreu no período
normal em que o Monte do Templo está aberto aos turistas, não tendo Sharon,
sequer, entrado em qualquer das Mesquitas. No entanto, a verdade é que a visita
foi usada como pretexto para o início da insurreição armada que os palestinianos
levaram a cabo e que, por esse motivo, designaram de “Intifada de Al-Aqsa” – a
“profanação” do local por um judeu e pelos cerca de 1.500 polícias israelitas
que o acompanharam, proteção essa que só foi necessária porque o chefe da
Segurança Palestiniana veio afirmar, posteriormente a ter dado o seu acordo à
realização da visita, que a polícia palestiniana nada faria para evitar
qualquer tipo de violência que surgisse durante a mesma.
A visita decorreu sem incidentes de maior, a não ser
os protestos de cerca de 1.500 jovens palestinianos que se juntaram no local e
que atiraram pedras, tendo a polícia israelita evitado na altura maiores
desacatos. Estes iniciaram-se de forma orquestrada e violenta a partir do dia
seguinte após as orações de sexta-feira nas mesquitas. É reveladora a
entrevista que Marwan Barghouti, líder do Tanzim (organização da estrutura da
Fatah) que se encontra a cumprir prisão perpétua em Israel pela sua ação
terrorista, deu ao Diário de língua árabe de Londres Al-Hayat, em 29 de
Setembro de 2001, admitindo o seu papel na preparação da insurreição: “Eu
sabia que o final de Setembro era o último momento antes da explosão mas quando
Sharon foi à Mesquita de Al-Aqsa, este tornou-se o momento mais apropriado para
o início da intifada… Na noite anterior à visita de Sharon, eu participei num
painel numa televisão local e aproveitei a oportunidade para apelar ao público
para ir à Mesquita de Al-Aqsa na manhã seguinte pois não era possível que
Sharon chegasse assim a Al-Haram al-Sharif (o nome pelo qual os muçulmanos
designam o Monte do Templo) e saísse pacificamente. (…) fui a Al-Aqsa de
manhã… tentámos criar confrontos mas sem sucesso por causa da diferença de
opiniões que surgiram na altura com outros que se encontravam no recinto de
Al-Aqsa… Depois de Sharon ter ido embora, fiquei duas horas com outras pessoas
e discutimos a maneira de respondermos e como a reacção poderia ocorrer em
todas as cidades e não apenas em Jerusalém. Contactámos todas as facções.”
Por outro lado, Imad Falouji, Ministro das Comunicações da Autoridade
Palestiniana, disse, num encontro realizado no Líbano em 3 de Março de 2001,
que a violência tinha sido planeada em Julho, portanto, muito antes da visita
de Sharon ao Monte do Templo. Ele afirmou: “Quem pensar que isto começou por causa da
visita desprezível de Sharon a Al-Aksa está enganado. Estava planeado desde o
regresso de Arafat de Camp David…” Os próprios órgãos de informação
oficiais da Autoridade Palestiniana incitaram à violência pois, a 29 de
Setembro, a Voz da Palestina (a rádio oficial da Autoridade Palestiniana),
começou a difundir apelos a todos os palestinianos para virem defender a
Mesquita de Al-Aqsa e a Autoridade Palestiniana encerrou as escolas e
providenciou transporte para os estudantes se deslocarem ao Monte do Templo
para participarem nos distúrbios! E a 30 de Setembro, quando centenas de israelitas
se encontravam no Muro Ocidental nas orações por ocasião do Ano Novo Judaico,
milhares de Árabes começaram a atirar-lhes tijolos e pedras, assim como à
polícia israelita. A violência então propagou-se a cidades e vilas por todo o
Israel, à Judeia e Samaria e à Faixa de Gaza.