Tenho um amigo, Judeu e Russo, Asknazi mas moreno - tão moreno que parece ser tão meu primo quanto o é (e é na verdade) meu vizinho - e que costuma dizer que, aqui em Rathmines, nome do bairro onde fica a rua em que vivemos, é dos pouco lugares que o consegue fazer sentir-se "branco". Dada a quantidade de Arabetas e/ou Muçulmanos por metro quadrado, sem ter que pensar ou olhar em redor duas vezes, eu começo a concordar com ele. Mas o meu amigo, moreno mas Askenazi, ainda costuma acrescentar que Rathmines é dos poucos lugares onde se sente "Russo", ou seja ele próprio.
A semana passada, ao regressar da primeira aula de Hebraico com um dicionário do dito idoma debaixo do braço, cruzei-me com alguns desses abundantes Arabetas e/ou com alguns dos muitos Muçulmanos. Temendo algum ataque Anti-Semita, depressa escondi o dicionário no bolso do casaco. Contudo, se pensar bem, esta malta é mais dada a ataques com bombas e cobardias afins do que a práticas de assalto em plena cidade. Seria mais plausível que o pessoal pró-Palestiniano ou algum ignorante que odeie o mundo inteiro - que é um tipo de criatura muito Irlandês - me abordasse com maus intentos. No fundo, e novamente se pensar bem, o tipo de pró-Palestiniano e o tipo de Irlandês que não grama o pessoal doutros países, são dois tipos de ignorantes que, cada um à sua maneira, incomodam, sendo a única diferença que os primeiros se pensam e proclamam inteligentes.
Ontem, ao voltar da segunda aula, em vez do dicionário de Hebraico, troxe um troço de pão debaixo do braço. No entanto, não vi tipos da primeira, nem da supracitada índole. Na verdade, não vi vivalma, que é o que se quer, quando, como eu e não à maneira dos Irlandeses anti-todos, não se tem propriamente em estima a espécie, com exceção dos que, entre a espécie, sempre viveram em vias de extinção: os êxcentricos. Quanto ao troço de pão, à imagem e semelhança de tudo o que brote de sementes, também é um traço identitário do ser semita. Só não é tão descarado quanto um dicionário de Hebraico e, assim sendo, dá um bocadinho mais de direito a existir de kipah em punho.
No que concerne à segunda aula, que afinal de contas é o que a esta crónica nos traz, foi dedicada à segunda metade do aleph bet, às vogais e a um ou outro verbo. O professor estava suficientemente bem disposto para conseguir segurar o sorriso por cerca de cinco segundos e, antes do início da aula, confessar, ainda sem deixar cair os lábios, que "sorri pouco por fora, mas muito por dentro", assim como para confessar ser um apreciador do sorriso da minha colega Irlandesa e loira. Ao entrarmos na sala de aula, eu ainda tive tempo de dizer que também sou mais dado a sorrisos interiores que exteriores e que também acho bonito o sorriso da menina ali do lado. Cujo marido - moreno, mas, ao contrário do meu amigo, Sefardita - aposto que também é todo-sorrisos lá dentro e de poucos ou nenhuns sorrisos cá fora, e fã, como nós, do sorriso de sua esposa. Posto, e apostado, isto, quem ainda se atreve a dizer que a única semente semita é a semente da discórdia?
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