Kazmierz, bairro judeu de Cracóvia, é o palco para o 24º Festival de Cultura Judaica. Além dos habituais turistas que não sabem onde vão senão para os lugares onde são levados, o bairro está cheio dos judeus (maioritariamente americanos) que só viajam de judiaria em judiaria e alguns gentios que vieram aqui ver isto, como se o horror fosse um espetáculo ou caracolinhos & kipás fossem uma espécie de zoo. Há ainda lugar para uma vaga de visitantes que está especificamente aqui para o evento. Eu sou quase um deles. Com a diferença que era capaz de vir a Cracóvia sem a desculpa do Festival, assim como ao dito não deixaria de vir se fosse numa cidade feia, sem uma centésima do charme que é caraterístico da Silésia.
Durante o dia de Sábado, não vou a nenhum dos eventos. Prefiro espairecer, pelo próprio pé e pelo bairro Judaico fora. Entro, no entanto, na Velha Sinagoga e nalgumas livrarias. Assim como me reabasteço nalguns restaurantes, ora com frango com gengibre e sementes de sêsamo, ora com húmus e pitas israelitas. Como disse, eu sou diferente. Vivo há duas semanas na Polónia e ainda me parece que ando por aqui a viajar - se bem que vai ser sempre assim, por mais que, aqui ou ali, aconteçam alguns episódios que me encham os dias e me possam fazer pensar que eu estou a existir na bela da Silésia.
Episódios tão comuns como, nessa mesma noite, ter acabado a rave (evento oficial do evento, assinale-se) com um israelita e duas bgiginas. Algo absolutamente banal, corriqueiro: dois encardidos e duas loiras. Não fosse o mote da festa "Where Kraków meets Tel Aviv".
No dia seguinte, junto ao rio Wisla, participo no pic-nic. A minha participação reduz-se a afogar a ressaca em água com gás. (A água, tal como as gajas, são especialmente boas em Cracóvia e, pelo que vi, em toda a Polónia).
Antes que me engasgue, e ainda antes de voltar para Katowice, vou ali ao Jewish Community Centre assistir a uma conferência com o Rabi Avi. É acerca dos cinco livros do Tanach e o tema é tentar entender a razão por que D-us indicou o território de Israel para o povo Eleito. A tese do Rabi Avi é que, naquele perímetro de terra, encontra-se o micro-cosmos do mundo e dali, assim como da Diáspora, se pode irradiar luz para a humanidade.
Convenceu-me. Amanhã volto a Cracóvia.
2 comentários:
Kazmierz, bairro judeu de Cracóvia
Que é que quer dizer "bairro judeu" aqui? Que percentagem da população desse bairro é judia? É atualmente um bairro judeu ou apenas o foi no passado (há 80 anos atrás)? Instalam-se aqui muitos judeus ou apenas há uma tradição judaica artiicialmente mantida?
Não sei bem. Mas acho que é como Belém, bairro cristão da Palestina. Pode ir lá ver e esclarecer-me? A mim, por causa dos carimbos, não me deixam lá entrar. A si, só não sei se o deixam sair.
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