domingo, 24 de maio de 2009

Postos avançados e centrifugadoras

Quem não compreende o Irão não compreende o Médio Oriente. Se o Irão se converter ao nuclear, segui-lo-ão o Egipto e a Arábia Saudita, e o Médio Oriente converter-se-á numa região nuclear multipolar. Se o Irão se converter ao nuclear, os xiítas fortalecem-se e os sunitas enfraquecem-se, e o radicalismo religioso ameaçará os regimes moderados. Se Irão se converter ao nuclear, o Médio Oriente estará ameaçado por um terror nuclear. Se Irão se converter ao nuclear, o Hamas tornar-se-á mais forte e a Al Fatah enfraquecerá. Se o Irão se converter ao nuclear, será o fim da solução de dois Estados. Felizmente, Barack Obama compreende em grande parte o Irão. Benjamin Netanyahu e Ehud Barak compreendem muito bem o Irão. Angela Merkel e Nicolas Sarkozy também compreendem o Irão. Mesmo Gordon Brown compreende o Irão. Hosni Mubarak, o Rei Abdullah e os governantes árabes moderados na Arábia Saudita e nos emiratos do Golfo compreendem o Irão melhor que todos eles. Só em Israel alguns não compreendem ainda o Irão, e assim simpatizantes da esquerda e da direita continuam a cantar mantras obsoletas. A esquerda tem toda a razão ao afirmar que só uma solução de dois estados para dois povos conduzirá a uma paz israelo-palestiniana. Por isso, a evacuação dos colonatos é uma condição necessária para a paz. Por isso, as conversações com todos os estados árabes, serão um marco adequado para a paz, e para obter uma paz regional. Contudo, tudo isto em si mesmo não pode parar uma só centrifugadora de Natanz.
Falar da paz e fazer a paz, não deterá os ayatolas. E se os ayatolas não são detidos, no ano que vem o discurso pela paz perderá o seu sentido e qualquer acordo de paz pode ser irrelevante. Quem queira a paz deve adoptar uma resposta face ao Irão. Esta é a última hora, e a hora para que as avestruzes tirem a cabeça da areia. Como no passado, a direita é anda hoje tão excêntrica como a esquerda. A direita do projecto dos colonatos comportou-se absurdamente desde o princípio. Em 2009, só um cego acredita que a segurança de Israel depende de algumas povoações isoladas. Só alguém que careça de qualquer entendimento dos assuntos do Estado acreditará que o futuro de Israel depende dos postos ilegais na Judeia e do crescimento natural da Samaria. A direita israelita deve ser não só religiosa e ideológica, mas também realista e sóbria. Mas uma facção política que insista em não sacrificar nada da Cisjordânia aumenta a ameaça estratégica na frente oriental. No momento da verdade, o anacronismo da direita põe perigo a existência de Israel. Israel necessita de um plano de paz com três etapas para deter o Irão. Na primeira etapa, Israel deveria reunir os moderados, árabes e israelitas, em redor de uma visão conjunta e tomar medidas que fomentem a confiança mútua. Na segunda etapa, deveria tratar do Irão. Na terceira etapa, tratar de aplicar uma visão de paz com acções audazes, mas também realistas. Mas para avançar nessa iniciativa de paz Israel deverá libertar-se dos velhos dogmas da esquerda e da direita. Uma parte, deve compreender que não haverá paz de baixo da sombra de um Irão nuclear. A outra parte, deve compreender que sem um compromisso e um movimento para a paz seguramente o Irão se converterá ao nuclear. Não há tempo. O governo de Netanyahu deve actuar antes do discurso de Obama no Cairo nos princípios de Junho. Deve apresentar sem demora uma visão de paz que seja inspiradora e realista. A evacuação dos postos avançados e a paralisação da construção nos colonatos devem fazer parte desta visão, e deverá concentrar-se na disposição de Israel e dos árabes a assinar um tratado para construir um estado palestiniano. Os Emiratos do Golfo, podem empreender o desenvolvimento da Cisjordânia. Arábia Saudita pode oferecer um horizonte de esperança para Gaza. Os egípcios e os jordanos podem proporcionar a segurança necessária e a responsabilidade diplomática. Uma coligação de forças moderadas pode actuar conjuntamente no Médio Oriente para mudar a situação no terreno. Os responsáveis dos poderes na cena internacional devem ser capazes de proporcionar a base estratégia para tomar medidas firmes contra o Irão. No seu regresso de Washington, supunha-se que Netanyahu se daria conta que é agora ou nunca. A esquerda pode ser irritante, mas a direita é restritiva. Israel deve actuar para responder aos seus desafios. Deve pôr de pé uma iniciativa israelita. Mas para formular uma iniciativa israelita Netanyahu deverá libertar-se finalmente dos projectos ilusórios da direita.

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