domingo, 23 de junho de 2013

O Sionismo e Jerusalém - Parte 6

1967
No período de 19 anos que se seguiu à Guerra da Independência, Israel edificou em Jerusalém uma capital moderna, transferindo para a cidade praticamente todos os centros de poder, com exceção do ministério da Defesa que continuou em Tel Aviv. Durante este período a Jerusalém israelita foi alvo de vários ataques provenientes da parte Oriental sob controlo jordano. Só em 1967 o status quo resultante do pós-guerra da independência seria abalado pela eclosão de outro conflito: a Guerra dos Seis Dias.
A Guerra dos Seis Dias traduziu-se por uma vitória retumbante de Israel sobre os países árabes. Os combates mais intensos decorreram precisamente em Jerusalém, com o Tzhal a concentrar os seus esforços na conquista do Bairro Judeu da Cidade Velha perdido em 1948. Em poucos dias Jerusalém Leste mudou de mãos e Israel passou a controlar toda a Cidade Santa, incluindo todos os Lugares Sagrados da Cidade Velha.
A reunificação de Jerusalém marcou uma profunda alteração na abordagem israelita em relação à cidade: se até 1967 se aceitava a ideia de estabelecer a capital de Israel em Jerusalém Ocidental, o conflito alterou profundamente essa ideia e Israel passou a defender a totalidade de Jerusalém como sua capital.
A conquista de Jerusalém Oriental foi absolutamente eletrizante para os israelitas e a sua posse de certa forma reorientou Israel de uma linha secular, socialista e moderna para uma mais religiosa, conservadora e tradicional. O sionismo religioso e nacionalista emergiu e ganhou influência, enquanto o sionismo trabalhista a perdeu. Apesar disso, a posse de Jerusalém criou uma unanimidade entre os israelitas devido ao significado que a cidade sempre teve para o Povo Judeu. Os Judeus mais seculares ficaram maravilhados com a conquista de Jerusalém, mas foram os religiosos que mais rejubilaram com a reunificação. Para estes, Jerusalém passou a ser um sinal do cumprimento das profecias bíblicas. Este consenso tornou inconcebível abrir mão da Cidade Santa, tendo o Estado de Israel mobilizado elevados recursos para Jerusalém para que a conquista se tornasse irreversível28. Depois da reunificação, Israel expandiu a cidade, incorporando mais zonas residenciais judaicas, e renovou a Cidade Velha. Passou ainda a aplicar à totalidade da cidade as leis israelitas.
Do ponto de vista externo, a manutenção da totalidade de Jerusalém sob tutela israelita não foi aceite pela generalidade da comunidade internacional e alguns países que tinham as embaixadas em Jerusalém acabaram por mudá-las para Tel Aviv. Acentuou-se até a ideia que Jerusalém deveria ser uma cidade internacionalizada.
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Notas 
28 – MONTEFIORE, Simon Sebag, Jerusalém, a biografia, p.549.

PARTE 1, PARTE 2, PARTE 3, PARTE 4, PARTE 5.

2 comentários:

Luís Lavoura disse...

O sionismo religioso e nacionalista emergiu e ganhou influência, enquanto o sionismo trabalhista a perdeu.

Isso não se deveu propriamente à conquista de Jerusalém (oriental), mas sim à mudança da composição da população israelita. Inicialmente ela era composta por asquenazim, muito secularizados, mas com o decorrer do tempo os judeus orientais e sefarditas, mais tradicionalistas, tornaram-se demograficamente preponderantes.

Também, nos últimos decénios tem-se dado um ressurgir do tradicionalismo e fundamentalismo religiosos, que são muito referidos no islamismo mas também ocorrem noutras religiões, em particular a judaica.

João Monteiro disse...

Pois claro, Luís Lavoura, outra comparação politicamente correta: no que toca a fundamentalismos, todos se incluem no mesmo 'saco', não é? Diga lá que comparação pode existir entre o fundamentalismo em que os seus defensores, de forma recorrente, se fazem explodir e levam consigo não poucas vítimas inocentes ou, então, simplesmente fazem explodir várias vítimas inocentes, com o outro fundamentalismo que pretende apenas a defesa de valores que considera fundamentais mas sem violência?