Quando
no final do século XIX o sionismo religioso (não organizado) deu lugar ao
sionismo político organizado, a importância que Jerusalém tinha para o povo
Judeu não foi totalmente apropriada por essa mudança. Apesar do nome do
movimento sionista derivar de uma colina de Jerusalém – o Monte Zion – a cidade
e a sua posse não estiveram no centro das prioridades dos primeiros sionistas. No
seu início o movimento sionista defendia basicamente a ideia do
estabelecimento de uma nação judaica na Palestina, sendo a posse de Jerusalém apenas implícita. A sua inclusão no futuro Estado Judaico era
pretendida, mas nos primeiros momentos do sionismo político verificaram-se poucas
referências explícitas a Jerusalém.
Teodor
Herlz, o principal percursor do movimento sionista e fundador da Organização
Sionista Mundial, publicou em 1896 uma obra intitulada O Estado Judaico, onde declarou que a Palestina é a pátria
histórica dos judeus e descreveu as tarefas que eram necessárias levar a cabo
para construir um Estado na Palestina. O livro, que teve um grande impacto
junto dos judeus europeus e exerceu uma grande influência no surgimento do
sionismo político, não faz nenhuma referência a Jerusalém.
A única vez que esteve na Palestina (1898) Herlz não ficou com uma boa impressão de Jerusalém, mas admitiu a possibilidade de a cidade um dia pertencer ao Estado Judaico e de preservar nela tudo o que é sagrado. Mais tarde chegou à conclusão que Jerusalém teria de ser partilhada, tendo um estatuto extraterritorial7.
A única vez que esteve na Palestina (1898) Herlz não ficou com uma boa impressão de Jerusalém, mas admitiu a possibilidade de a cidade um dia pertencer ao Estado Judaico e de preservar nela tudo o que é sagrado. Mais tarde chegou à conclusão que Jerusalém teria de ser partilhada, tendo um estatuto extraterritorial7.
Os
primeiros dois congressos da Organização Sionista Mundial (1897 e 1898) também
se focam no objetivo primordial de fundação de uma pátria judaica na Palestina,
sem no entanto se debruçarem explicitamente sobre a cidade de Jerusalém. O
mesmo aconteceu com os congressos seguintes, nos quais foram estabelecidas as
estruturas necessárias ao prosseguimento da criação do Estado Judaico. Houve
inclusive desvios ao objetivo Palestina, com a possibilidade de o Uganda servir
de local de acolhimento para esse propósito.
Na
Palestina a colonização do território não era diferente da estratégia delineada
pelas lideranças sionistas: do ponto de vista agrícola, os sionistas
concentravam os seus esforços junto à planície costeira e na Galileia; em meio
urbano as atividades sionistas centravam-se principalmente na zona de Jaffa.
Neste período foi planeada e fundada a primeira cidade inteiramente judaica:
Tel Aviv.
Esta
relativamente menor importância de Jerusalém no início do movimento sionista esteve
relacionada com vários aspetos:
-
O objetivo principal do sionismo era o estabelecimento de Estado Judaico na
Palestina e não a definição do estatuto ou da posse de Jerusalém;
-
Jerusalém representava o antigo e o conservador, estando nos antípodas do
estilo de sociedade que os primeiros sionistas pretendiam para o futuro Estado
Judaico – secular, não religioso, regido por leis de inspiração europeia, com
separação entre o estado e a Igreja e voltado para o futuro e não para o
passado;
-
A população judaica de Jerusalém era diferente da dos novos judeus chegados com
o sionismo: era mais religiosa, mais pobre, diferente no comportamento e na forma
de pensar e estava habituada a viver sob a soberania de outros povos, sendo os
sentimentos nacionalistas bastante reduzidos;
-
Os judeus de Jerusalém, sendo religiosos na sua maioria, também não receberam
bem o sionismo político, pois esperavam a vinda do Messias;
-
Os dirigentes sionistas viram Jerusalém como um obstáculo à criação de um
estado judaico na Palestina, porque a cidade simbolizava o conflito com o mundo
árabe e cristão, e a sua reivindicação contaria com a oposição da comunidade
internacional.
Apesar
disso, e ainda antes da Primeira Guerra Mundial, registou-se um esforço sionista
de compra de terras em Jerusalém, nomeadamente em locais pouco povoados. São
exemplo disso a zona de Talpiot, do Monte Scopus e a zona oeste8.
_________________________________Notas
7– MONTEFIORE, Simon Sebag, Jerusalém, a biografia, p.422.
1 comentário:
Muito interessante. Excelente súmula.
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