quinta-feira, 31 de maio de 2012

Três simples medidas

Foi hoje anunciado mais um estatuto do aluno, com as habituais promessas de penalizações para os alunos e de benesses para os professores, vulgo, reforço da sua autoridade. No essencial trata-se do repetir os sound-bites do passado, que todos os governos já fizeram, e que até hoje não tiveram qualquer impacto positivo nas escolas. E com maioria de razão porque desde que Nuno Crato é ministro nada de substancial mudou  no ensino.
As medidas agora anunciadas voltam a repetir os erros dos estatutos anteriores. Onde antes estava um burocrático PIT, que só servia para castigar o diretor de turma, aparecem agora umas tarefas a favor da comunidade, que soam a benaventês do mais retinto. Nem se imagina a quantidade de papeis que o pobre diretor de turma terá de preencher antes de conseguir colocar um dos alunos mal comportados a varrer o pátio. Já para não falar das inúmeras comunicações que terá de fazer para a CPCJ e para o SASE. As novas intenções ministeriais ficarão paralisadas na imensa cultura de burocracia que impera nas escolas. É quase inacreditável que a atual equipa governativa não saiba que é isto que vai acontecer.
Se o Ministério da Educação quiser realmente tratar da indisciplina, deve primeiro reconhecê-la como o principal problema do ensino português, depois deve dar mais ouvidos aos professores para realmente saber o que se passa no terreno, e por fim adotar algumas medidas para diminuir a balbúrdia generalizada:  1 - tornar os atuais processos disciplinares hiper-burocratizados em processos disciplinares sumários e simplificados, onde a aplicação de sanções seja fácil, rápida e barata; 2 - incluir o comportamento dos alunos no seu registo de avaliação, classificando-o de um a cinco e contabilizando-o para efeitos de aprovação/reprovação como se de uma disciplina se tratasse; e 3 - criar um cargo de professor-instrutor a tempo inteiro, unicamente para tratar dos casos de indisciplina da escola. Para começar chegava. Basta quererem.

10 comentários:

Luís Lavoura disse...

Essa de colocar a indisciplina a reprovar o aluno, não me parece boa ideia.
Sou pai de um aluno que é muito bom (tira excelentes notas) mas, simultâneamente, é muito indisciplinado. Imagino o prejuízo que semelhante medida poderia trazer ao meu filho, ao atrasar-lhe a carreira escolar, desperdiçando dessa forma a sua inteligência.

Joaquim Simões disse...

Calma, David! Acho que lá chegaremos. Posso estar enganado, mas julgo que esta é apenas uma fase preparatória necessária. Pelo menos, para já, ao que parece, diminuirá parcialmente a carga burocrática nos processos disciplinares.
Se assim não vier a ser, arreie-se no ministro! Sem dó nem piedade.
Mas o que vai ser giro é a palhaçada "humanista" durante a discussão na AR.

DL disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
RioD'oiro disse...

Caro Luís Lavoura,

" Imagino o prejuízo que semelhante medida poderia trazer ao meu filho,"

Imagina o prejuízo que a indisciplina do seu filho poderá trazer aos filhos dos outros?

António Procópio disse...

" Imagino o prejuízo que semelhante medida poderia trazer ao meu filho,"
Luis Lavoura

Este comentário mostra o que está em causa. Os pais têm de perceber que a indisciplina tem de ser trabalhada em casa e não na escola que devia estar vocacionada para em primeiro lugar transmitir conheciemnto.

A questão que RioD'oiro colocou:
"Imagina o prejuízo que a indisciplina do seu filho poderá trazer aos filhos dos outros?" é bastante pertinente. Quem está na escola e quer aprender deve ter esse direito assegurado e isso nem sempre acontece.

Ana disse...

“Sou pai de um aluno que é muito bom (tira excelentes notas) mas, simultâneamente, é muito indisciplinado.”
Luís Lavoura

Há algo de errado neste juízo de valor, com certeza um exagero da realidade. Em quase trinta anos de ensino, nunca vi um aluno realmente muito bom que fosse muito indisciplinado. Das duas uma: ou este aluno não é muito bom, ou não é muito indisciplinado.
Porém, uma coisa é certa: ao fazer esta afirmação convictamente, este pai acaba de passar um atestado de incompetência a si próprio, pois se o filho é muito bom aluno é porque, para além das eventuais capacidades acima da média que possa possuir (inteligência), a escola cumpre muito bem o seu papel de o ensinar, como lhe compete. Porém, se é muito indisciplinado, a família (o pai) está a falhar, uma vez que é da sua competência dar educação, promover a disciplina do seu educando. Neste caso direi que esta medida traria muitos benefícios a este aluno/ filho, permitindo que ele aprendesse também na escola e valorizasse aquilo que a família não lhe ensinou, como era seu dever.
Finalmente, a escola é uma instituição que promove a formação pessoal e integral do aluno, académica e cívica, preparando-o para o exercício de uma cidadania activa e responsável, o que, fruto do esvaziamento da sua autoridade ao longo dos tempos, aliado ao estado “bruto” a que muitas crianças lá chegam agora e à incompetência progressiva de muitas famílias, exige que sejam tomadas medidas sérias e urgentes como as que o post indica.

Anónimo disse...

O senhor que tem o filho insdisciplinado,deve educá-lo em casa e ensinar-lhe que deve respeitar os professores e colegas. O facto de ter boas notas não lhe dá o direito de ser indisciplinado.

mariafrade disse...

Não me parece que vá haver grandes alterações no tratamento da indisciplina nas escolas. O Pit era uma aberração, o trabalho cívico vai levantar a velha questão de o castigo de uns ser o trabalho diário de outros, além concerteza da autorização do encarregado de educação para essa tarefa e muitos são contra. Para o trabalho á comunidade é também necessário trabalho de vigilância e muitas escolas não terão essa capacidade de resposta. As suspensões só servem para aliviar a escola durante uns dias da presença e dos disparates dos alunos. Ou seja é um problema de educação e respeito pelos outros que se faz em casa. A penalização dos pais retirando os subsídios irrisórios, também não me parece eficaz. Será que integrar o comportamento na avaliação resulta? Talvez em alguna casos.

Anónimo disse...

« 1 - ... onde a aplicação de sanções seja fácil, rápida e barata. »
A questão não está em ser barata, sim exemplar e dissuasora.

« 2 incluir o comportamento dos alunos no seu registo de avaliação .... »
As faltas de natureza disciplinar deveriamm ter efeitos na frequência, não sobre o aproveitamento.

« 3 - criar um cargo de professor-instrutor a tempo inteiro... » Inútil e desnecessário. Não é com coversa fiada que se vai lá.

DL disse...

1 - Barata sim, quanto mais burocracia, mais dinheiro desperdiçado. Basta suprimir as celebres cartas registadas com aviso de receção e poupará milhares...

2 - Já têm na frequência, mas só em teoria. Por um aluno fora da sala é outra aventura burocrática.

3 - Esse professor trataria da burocracia residual e da proposta de sanções.

Conversa fiada é ao que nós temos assistido.