quinta-feira, 9 de maio de 2013

O Sionismo e Jerusalém - Parte 1

O período anterior ao Sionismo político
O Sionismo é o antigo anseio dos Judeus de regressarem à sua terra ancestral como um povo livre e independente. O Movimento Sionista é a expressão política desse anseio, sendo por isso um movimento de autodeterminação1
O sentimento sionista teve a sua primeira manifestação no exílio da Babilónia, no século VI a.C. após a destruição do Primeiro Templo de Jerusalém: Junto aos rios de Babilónia nos assentámos e chorámos, lembrando-nos de Sião2. Sião, um dos montes de Jerusalém, o símbolo e sinónimo da cidade e até da Terra de Israel, deu inspiração à vontade indomável de independência e liberdade do Povo Judeu.  
Depois do exílio da Babilónia o sentimento sionista voltou a fazer-se sentir quando o Povo Judeu perdeu a sua pátria ancestral e foi forçado a uma segunda Diáspora no ano 70 d.C.. Os Judeus espalharam-se pelo mundo mas ansiaram sempre por um regresso a Sião (Jerusalém). Durante dois mil anos a oração “Se eu te esquecer, Jerusalém, que a minha mão direita me esqueça!” foi símbolo da fidelidade e da ligação do Povo Judeu a Jerusalém e à Terra de Israel. Judeus que nunca tiveram a menor hipótese de vislumbrar um regresso faziam todos os anos um voto, pela altura da Páscoa, de se encontrarem “para o ano em Jerusalém”. Nos lares religiosos era costume deixar sempre por pintar uma pedra a fim de recordar a Cidade Santa, e nos casamentos o noivo esmagava um vidro com o pé direito em sinal de dor pela destruição do Templo3.
O desejo de retorno acalentou e reconfortou os Judeus nas suas duas longas e difíceis diásporas. O sionismo ainda não tinha sido definido, mas já existia: era essencialmente religioso e tinha uma forte ligação a Jerusalém. Na segunda Diáspora, ao longo de quase dois milénios, o retorno não passou de um sonho, pois Jerusalém esteve sempre sob domínio estrangeiro: primeiro do Império Romano, depois do Califado e por fim do Império Otomano. Até ao século XIX foram poucos os judeus que conseguiram regressar a Sião. Em meados do século XIX apenas havia 10 mil judeus na Terra de Israel, 8000 dos quais em Jerusalém4.
Ao longo da segunda metade do século XIX o sentimento nacional judaico esteve em constante crescimento e a atração pela terra ancestral começou a ser cada vez mais forte. Muitos Judeus tomaram nessa altura consciência da sua condição de povo sem Estado.
O surgimento do antissemitismo, especialmente contra os judeus da Europa Oriental, teve como consequências a procura de uma solução nacional para o problema judaico e a imigração para a Palestina. Grande parte desta primeira imigração dirigiu-se a Jerusalém e os judeus passaram a constituir a maioria da população da cidade a partir do ano de 1850. Entre 1864 e 1889 o seu número triplicou atingindo os 25 mil5 (contra 14 mil árabes) e Jerusalém transformou-se no centro judaico da Palestina. Tal facto evidencia bem a importância da cidade para o sionismo religioso antes da sua passagem a movimento político organizado.
Assim, neste período anterior ao surgimento do sionismo político organizado, Jerusalém para além da importância simbólica e religiosa que sempre teve para os Judeus da Diáspora, passou a ter também uma enorme importância demográfica: era a primeira vez desde a destruição do Segundo Tempo que se conseguiam estabelecer em massa na cidade e simultaneamente constituírem a maioria da população. E foi também a primeira vez que sua presença começou a causar inquietação entre os dirigentes árabes6.
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Notas
2 Salmo 137:1 – A Bíblia Sagrada (Tradução de João Ferreira de Almeida, Edição Contemporânea, Editora Vida, S. Paulo).
3 MONTEIRO, João, Israel, a Comunidade Internacional e paz com os Árabes.
4 GILBERT, Martin, História de Israel, p.19.
5 GILBERT, Martin, História de Israel, p.25.
6 MONTEFIORE, Simon Sebag, Jerusalém, a biografia, p.422.

7 comentários:

Luís Lavoura disse...

ao longo de quase dois milénios, o retorno não passou de um sonho, pois Jerusalém esteve sempre sob domínio estrangeiro [...] Em meados do século XIX apenas havia [...] 8000 [judeus] em Jerusalém

Esta história parece-me um bocado inverosímil.

Havia centenas de milhares de judeus por todo o mundo árabe. Vai-me fazer crer que eles estavam todos impossibilitados de se estabelecer em Jerusalém? Por que razão havia mais judeus em Bagdade do que Jerusalém? Por não poderem viajar de uma cidade para a outra? Tenho dificuldade em crer.

Eu diria que uma explicação muito mais verosímil é que não iam para Jerusalém porque tinham vida estabelecida noutros locais e não tinham verdadeira vontade de abandonar esses locais. Aliás, a mesma razão pela qual hoje em dia uma boa metade dos judeus do mundo não está em Israel.

Luís Lavoura disse...

[com 25 mil judeus] Jerusalém passou a ter uma enorme importância demográfica

Só Varsóvia tinha 100 mil judeus (para mais que não para menos) Muitas outras cidades da Europa e do Médio Oriente teriam números similares de judeus. Isto mostra bem a (falta de) importância demográfica de Jerusalém...

DL disse...

Refiro-me à importância demográfica na Palestina Otomana, não no Mundo. Era o maior centro judaico na Palestina Otomana.

DL disse...

Luís Lavoura disse...

Em meados do século XIX apenas havia [...] 8000 [judeus] em Jerusalém


Citei a fonte.

Lura do Grilo disse...

Israel sempre existiu e existirá: não é substituindo os Judeus por o invasor árabe que Israel deixa de ser o Estado Judaico assim como a deportação de metade dos lituanos pelo comunismo não acabou com a Lituânia

DL disse...

@ Luís lavoura

O regresso individual poderia eventualmente ser possível, o regresso como Nação é que não.

DL disse...

@ I.B.

Não percebi a sua mensagem. Pode usar o meu email para explicar melhor.

Abraço