O Sionismo é o antigo anseio dos Judeus de regressarem à sua
terra ancestral como um povo livre e independente. O Movimento Sionista é a expressão
política desse anseio, sendo por isso um movimento de autodeterminação1.
O sentimento sionista teve a sua primeira manifestação no
exílio da Babilónia, no século VI a.C. após a destruição do Primeiro Templo de
Jerusalém: Junto aos rios de Babilónia
nos assentámos e chorámos, lembrando-nos de Sião2. Sião, um dos montes de Jerusalém, o
símbolo e sinónimo da cidade e até da Terra de Israel, deu inspiração à vontade
indomável de independência e liberdade do Povo Judeu.
Depois
do exílio da Babilónia o sentimento sionista voltou a fazer-se sentir quando o
Povo Judeu perdeu a sua pátria ancestral e foi forçado a uma segunda Diáspora
no ano 70 d.C.. Os Judeus espalharam-se pelo mundo mas ansiaram sempre por um
regresso a Sião (Jerusalém). Durante dois mil anos a oração “Se eu te esquecer, Jerusalém, que a minha
mão direita me esqueça!” foi símbolo da fidelidade e da ligação do Povo
Judeu a Jerusalém e à Terra de Israel. Judeus que nunca tiveram a menor
hipótese de vislumbrar um regresso faziam todos os anos um voto, pela altura da
Páscoa, de se encontrarem “para o ano em
Jerusalém”. Nos lares religiosos era costume deixar sempre por pintar uma
pedra a fim de recordar a Cidade Santa, e nos casamentos o noivo esmagava um
vidro com o pé direito em sinal de dor pela destruição do Templo3.
O
desejo de retorno acalentou e reconfortou os Judeus nas suas duas longas e
difíceis diásporas. O sionismo ainda não tinha sido definido, mas já existia:
era essencialmente religioso e tinha uma forte ligação a Jerusalém. Na
segunda Diáspora, ao longo de quase dois milénios, o retorno não passou de um
sonho, pois Jerusalém esteve sempre sob domínio estrangeiro: primeiro do
Império Romano, depois do Califado e por fim do Império Otomano. Até ao século
XIX foram poucos os judeus que conseguiram regressar a Sião. Em meados do
século XIX apenas havia 10 mil judeus na Terra de Israel, 8000 dos quais em
Jerusalém4.
Ao
longo da segunda metade do século XIX o sentimento nacional judaico esteve em
constante crescimento e a atração pela terra ancestral começou a ser cada vez
mais forte. Muitos Judeus tomaram nessa altura consciência da sua condição de
povo sem Estado.
O
surgimento do antissemitismo, especialmente contra os judeus da Europa
Oriental, teve como consequências a procura de uma solução nacional para o problema judaico e a imigração para a
Palestina. Grande parte desta primeira imigração dirigiu-se a Jerusalém e os
judeus passaram a constituir a maioria da população da cidade a partir do ano
de 1850. Entre 1864 e 1889 o seu número triplicou atingindo os 25 mil5
(contra 14 mil árabes) e Jerusalém transformou-se no centro judaico da
Palestina. Tal facto evidencia bem a importância da cidade para o sionismo
religioso antes da sua passagem a movimento político organizado.
Assim,
neste período anterior ao surgimento do sionismo político organizado, Jerusalém
para além da importância simbólica e religiosa que sempre teve para os Judeus
da Diáspora, passou a ter também uma enorme importância demográfica: era a
primeira vez desde a destruição do Segundo Tempo que se conseguiam estabelecer
em massa na cidade e simultaneamente constituírem a maioria da população. E foi
também a primeira vez que sua presença começou a causar inquietação entre os
dirigentes árabes6.
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Notas
1 MONTEIRO, João, Israel, a Comunidade Internacional e paz com os Árabes.
2 Salmo
137:1 – A Bíblia Sagrada (Tradução de João Ferreira de Almeida, Edição
Contemporânea, Editora Vida, S. Paulo).
3 MONTEIRO, João, Israel, a Comunidade Internacional e paz com os Árabes.
4 GILBERT, Martin, História de Israel, p.19.
4 GILBERT, Martin, História de Israel, p.19.
5 GILBERT, Martin, História
de Israel, p.25.
6 MONTEFIORE, Simon Sebag, Jerusalém, a biografia, p.422.
6 MONTEFIORE, Simon Sebag, Jerusalém, a biografia, p.422.
7 comentários:
ao longo de quase dois milénios, o retorno não passou de um sonho, pois Jerusalém esteve sempre sob domínio estrangeiro [...] Em meados do século XIX apenas havia [...] 8000 [judeus] em Jerusalém
Esta história parece-me um bocado inverosímil.
Havia centenas de milhares de judeus por todo o mundo árabe. Vai-me fazer crer que eles estavam todos impossibilitados de se estabelecer em Jerusalém? Por que razão havia mais judeus em Bagdade do que Jerusalém? Por não poderem viajar de uma cidade para a outra? Tenho dificuldade em crer.
Eu diria que uma explicação muito mais verosímil é que não iam para Jerusalém porque tinham vida estabelecida noutros locais e não tinham verdadeira vontade de abandonar esses locais. Aliás, a mesma razão pela qual hoje em dia uma boa metade dos judeus do mundo não está em Israel.
[com 25 mil judeus] Jerusalém passou a ter uma enorme importância demográfica
Só Varsóvia tinha 100 mil judeus (para mais que não para menos) Muitas outras cidades da Europa e do Médio Oriente teriam números similares de judeus. Isto mostra bem a (falta de) importância demográfica de Jerusalém...
Refiro-me à importância demográfica na Palestina Otomana, não no Mundo. Era o maior centro judaico na Palestina Otomana.
Luís Lavoura disse...
Em meados do século XIX apenas havia [...] 8000 [judeus] em Jerusalém
Citei a fonte.
Israel sempre existiu e existirá: não é substituindo os Judeus por o invasor árabe que Israel deixa de ser o Estado Judaico assim como a deportação de metade dos lituanos pelo comunismo não acabou com a Lituânia
@ Luís lavoura
O regresso individual poderia eventualmente ser possível, o regresso como Nação é que não.
@ I.B.
Não percebi a sua mensagem. Pode usar o meu email para explicar melhor.
Abraço
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