terça-feira, 14 de maio de 2013

O Sionismo e Jerusalém - Parte 2

De 1892 até ao início da Primeira Guerra Mundial
Quando no final do século XIX o sionismo religioso (não organizado) deu lugar ao sionismo político organizado, a importância que Jerusalém tinha para o povo Judeu não foi totalmente apropriada por essa mudança. Apesar do nome do movimento sionista derivar de uma colina de Jerusalém – o Monte Zion – a cidade e a sua posse não estiveram no centro das prioridades dos primeiros sionistas. No seu início o movimento sionista defendia basicamente a ideia do estabelecimento de uma nação judaica na Palestina, sendo a posse de Jerusalém apenas implícita. A sua inclusão no futuro Estado Judaico era pretendida, mas nos primeiros momentos do sionismo político verificaram-se poucas referências explícitas a Jerusalém. 
Teodor Herlz, o principal percursor do movimento sionista e fundador da Organização Sionista Mundial, publicou em 1896 uma obra intitulada O Estado Judaico, onde declarou que a Palestina é a pátria histórica dos judeus e descreveu as tarefas que eram necessárias levar a cabo para construir um Estado na Palestina. O livro, que teve um grande impacto junto dos judeus europeus e exerceu uma grande influência no surgimento do sionismo político, não faz nenhuma referência a Jerusalém. 
A única vez que esteve na Palestina (1898) Herlz não ficou com uma boa impressão de Jerusalém, mas admitiu a possibilidade de a cidade um dia pertencer ao Estado Judaico e de preservar nela tudo o que é sagrado. Mais tarde chegou à conclusão que Jerusalém teria de ser partilhada, tendo um estatuto extraterritorial7. 
Os primeiros dois congressos da Organização Sionista Mundial (1897 e 1898) também se focam no objetivo primordial de fundação de uma pátria judaica na Palestina, sem no entanto se debruçarem explicitamente sobre a cidade de Jerusalém. O mesmo aconteceu com os congressos seguintes, nos quais foram estabelecidas as estruturas necessárias ao prosseguimento da criação do Estado Judaico. Houve inclusive desvios ao objetivo Palestina, com a possibilidade de o Uganda servir de local de acolhimento para esse propósito. 
Na Palestina a colonização do território não era diferente da estratégia delineada pelas lideranças sionistas: do ponto de vista agrícola, os sionistas concentravam os seus esforços junto à planície costeira e na Galileia; em meio urbano as atividades sionistas centravam-se principalmente na zona de Jaffa. Neste período foi planeada e fundada a primeira cidade inteiramente judaica: Tel Aviv.  
Esta relativamente menor importância de Jerusalém no início do movimento sionista esteve relacionada com vários aspetos: 
- O objetivo principal do sionismo era o estabelecimento de Estado Judaico na Palestina e não a definição do estatuto ou da posse de Jerusalém;  
- Jerusalém representava o antigo e o conservador, estando nos antípodas do estilo de sociedade que os primeiros sionistas pretendiam para o futuro Estado Judaico – secular, não religioso, regido por leis de inspiração europeia, com separação entre o estado e a Igreja e voltado para o futuro e não para o passado; 
- A população judaica de Jerusalém era diferente da dos novos judeus chegados com o sionismo: era mais religiosa, mais pobre, diferente no comportamento e na forma de pensar e estava habituada a viver sob a soberania de outros povos, sendo os sentimentos nacionalistas bastante reduzidos; 
- Os judeus de Jerusalém, sendo religiosos na sua maioria, também não receberam bem o sionismo político, pois esperavam a vinda do Messias;  
- Os dirigentes sionistas viram Jerusalém como um obstáculo à criação de um estado judaico na Palestina, porque a cidade simbolizava o conflito com o mundo árabe e cristão, e a sua reivindicação contaria com a oposição da comunidade internacional. 
Apesar disso, e ainda antes da Primeira Guerra Mundial, registou-se um esforço sionista de compra de terras em Jerusalém, nomeadamente em locais pouco povoados. São exemplo disso a zona de Talpiot, do Monte Scopus e a zona oeste8.
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Notas 
7– MONTEFIORE, Simon Sebag, Jerusalém, a biografia, p.422.
8 – PAZ, Yair, The Zionist Movement and East Jerusalem,

PARTE 1

1 comentário:

Luís Palma de Jesus disse...

Muito interessante. Excelente súmula.