quarta-feira, 29 de julho de 2009

Israel, em paz ou em guerra


O Governo de Benjamin Netanyahu e Ehud Barack - centrado na coligação dos dois grandes partidos israelitas, o Likud de direita e o Trabalhista de esquerda - parece estar mais solidamente estabelecido do que, de entrada, muita gente julgou que seria possível. 'Bibi', como gostam de lhe chamar os seus detractores, chegou novamente ao poder com reputação de oportunismo político e de insensibilidade aos problemas dos palestinianos, inconveniente para negociar com eles. Barack, por seu lado - membro do governo anterior, em que coligara os trabalhistas com o Kadima, partido que Ariel Sharon, protegido de acusações de traição pelo seu prestígio ímpar de "falcão", conseguira arrumar ao centro -, mostrara de maneira pouco edificante o seu apego ao poder.
Estes dois chefes improváveis - acolitados pelo ministro dos Estrangeiros Avigdor Lieberman, judeu de origem russa, ultranacionalista, investigado pela polícia por suspeita de corrupção - estão a fazer frente aos Estados Unidos, insistindo na expansão dos colonatos em geral e de construções na parte árabe de Jerusalém Oriental em particular. A direita israelita temia a chegada de Obama à Casa Branca e vê agora os seus temores justificados. O estatuto de grande aliado e grande protector dos Estados Unidos não está a ser posto em causa, mas nunca, desde o tempo de Bush pai, Washington esteve menos longe das capitais europeias na reprovação do Governo israelita quanto aos territórios ocupados. A contra-pêlo da linha política oficial, alguns movimentos israelitas a favor da paz, pequenos e às vezes malquistos, incitam os Estados Unidos a aumentarem a pressão. Mas o geral das pessoas, a grande maioria da opinião pública, aprova as tomadas de posição do Governo, ambíguas, manhosas, se não mesmo suspeitas de má-fé, em resposta às exigências da chamada comunidade internacional.
Divergências ideológicas e históricas vindas desde a fundação de Israel em 1948 foram-se esbatendo e existe hoje uma espécie de realismo vocacionado para a sobrevivência que atravessa a sociedade dos velhos aos novos, da esquerda à direita. Contradições entre os altos ideais e exemplo do povo judeu ao longo dos séculos e as baixas obrigações de realpolitik do Estado hebreu continuam a ser problemas de consciência, mas são agora reconhecidas como contingências inevitáveis.
A mudança deve-se em grande parte ao que se tem passado do outro lado. Se a má-fé de Israel incomoda, a de palestinianos e outros árabes pode atingir proporções genocidárias: campanhas anti-semitas oficiais e oficiosas, dignas de Hitler, martelam, entra o ano sai o ano, escolas, jornais, telefonias, televisões e a web da região. Entretanto, governos árabes oprimem os seus e Hamas e Fatah guerreiam-se: só a miragem de aniquilar Israel anima a arraia miúda. Até os palestinianos serem capazes de se governar e respeitar compromissos, não haverá cedências de Israel. Não é missão do Estado judeu promover a sua própria aniquilação.
Por José Cutileiro, no Expresso

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