segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Estocolmo diz não a Jerusalém

Estalou o verniz entre os governos sueco e israelita. Em causa está um artigo publicado no tablóide sueco Aftonbladet, no qual se sugere que no passado soldados israelitas mataram palestinianos e procederam ao roubo dos seus órgãos. O artigo causou uma grande efervescência em Israel, com acusações de anti-semitismo contra o jornal e com o governo de Netanyahu a exigir que o governo sueco o condene. Ontem 20 pessoas manifestaram-se em frente da embaixada sueca em Tel Aviv, com cartazes onde se lia "Anti-semitismo a coberto da liberdade de expressão".
Por sua vez, o primeiro-ministro sueco, Fredrik Reinfeldt, rejeitou hoje a exigência de Israel e afirmou que a liberdade de imprensa é uma parte de integral da democracia e que não compete ao governo comentar os conteúdos publicados nos jornais. “Para mim, é importante poder dizer que não é possível alguém pedir ao Governo sueco que viole a constituição sueca”, disse.
A reacção do governo de Netanyahu só é legitima até certo ponto. A ser falso o que está escrito no jornal, é natural que haja um protesto e eventualmente um processo judicial. O que não é muito normal é a exigência feita ao governo sueco.
É possível que o tablóide seja anti-semita, a Europa está cheia de anti-semitas, mas isso não pode servir de desculpa para limitar a liberdade de imprensa. O ministros do governo de Netanyahu já deviam saber isso, e deveriam saber também que ao ampliar a polémica fica a parecer que estão a tentar condicionar essa liberdade. Ainda para mais, porque correm o risco de lhes acontecer o mesmo, se algum jornal da extrema-direita publicar alguma coisa mais ousada sobre os palestinianos.
Sobre o respeitador governo sueco, tem de se ir verificando se aplicam o mesmo critério com todo o tipo de notícias, ou se foi só desta fez. Também será conveniente escrutinar se os jornais da Suécia publicam ou não notícias, com o mesmo teor, sobre outros países e comunidades...

1 comentário:

Cirrus disse...

Não penso ser anormal o protesto. Partindo do princípio que é mentira, e não tenho razões para afirmar o contrário, compreendo a indignação. Mas concordo contigo, a via normal é a dos tribunais. Se não, podemos cair em extremismos de que ambos nos lembramos e que não vão há muito tempo.
Mentira ou verdade, um processo em tribunal também poderia ajudar a clarificar a questão.