terça-feira, 26 de outubro de 2010

Procura-se

Ao fim de 9 anos a usar as Áreas Curriculares Não Disciplinares para a doutrinação de alunos e professores, os socialistas descobriram aquilo que já quase todos sabiam:  a Área de Projecto e o Estudo Acompanhado não tiveram impacto nas aprendizagens. Sustentam a descoberta com vários estudos que se realizaram sobre esta matéria, e sugerem que apesar disso a metodologia de projecto pode e deve continuar ser usada no âmbito de cada disciplina.
A sugestão é por si só descabelada: pois se vale zero em termos de aprendizagem, por que é que os professores hão-de seguir este método nas suas disciplinas? Mas esta contradição ainda é o menos, visto que não passa de uma desculpa de mau pagador. O grave é  não terem tirado a conclusão principal: as reformas educativas baseadas no eduquês e na pedagogice são um embuste, não funcionam, e apenas têm como finalidade perpetuar o socialismo.
O que agora está a acontecer com a Área de Projecto  é apenas mais um exemplo da gestão irresponsável e ruinosa que o PS faz na Educação desde 1995. Não é compreensível que em 2001 se tenha forçado um sistema inteiro a adoptar uma  metodologia pedagógica que não tem impacto nas aprendizagens. Por que é que foi introduzida? Por que é que não foi testada e avaliada antes da inclusão no currículo nacional?  E por que é só agora é que foram feitos os vários estudos sobre esta matéria? Estas são as perguntas que qualquer Oposição deveria fazer, uma vez que  a introdução da Área de Projecto, do Estudo Acompanhado e da Formação Cívica, custou ao Estado centenas de milhões de euros. Na altura, em 2001, foi necessário contratar e efectivar milhares de professores - o mesmo número que em Setembro vai ser dispensado. Agora, e perante a falência eminente do país, os mesmos irresponsáveis que garantiam que as ACND seriam o paraíso das escolas e o grande salto em frente da educação em Portugal, vêm concluir que afinal tudo não passou de um enorme fiasco. Mais um fiasco. Mais uma reforma falhada. 
Alguém deveria ser responsabilizado por este tremendo erro de política educativa, mas principalmente  pelos milhões de euros atirados à rua. E esse alguém tem um nome: Ana Benavente, pois foi ela a principal responsável por este disparate. Ana Benavente, para além de ter o defeito de ser uma das principais ideólogas do PS em matéria de Educação,  é a par de Maria de Lurdes Rodrigues uma das principais coveiras do ensino em Portugal. E por isso deve ser denunciada e responsabilizada.

6 comentários:

R disse...

O David tem razão em muitas das suas críticas mas, em todo o caso, gostaria de dizer que tive a sorte de estudar numa escola piloto, pelo que, entre outras coisas, fiz o meu ensino entre o 5º e o 9º ano sempre tendo Área Projecto e Estudo Acompanhado (e acho que também tive Formação Cívica).

Apesar de a maior parte do tempo ter sido efectivamente desperdiçado, senti que havia muita potencialidade nessas disciplinas e que houve várias coisas que tive oportunidade de aprender lá, que de outra forma não teria.

Lembro-me de fazermos debates em Estudo Acompanhado sobre o que poderíamos melhorar nas aulas e nos momentos de estudo e de recebermos indicações sobre formas de melhor estudar e mesmo conselhos relativos aos problemas que tínhamos colocado como sendo os que sentíamos que eram os principais no modelo de ensino.

Em Área Projecto, do 5º ao 9º ano, tive oportunidade de trabalhar em grupo e fazer um projecto alargado e de longo prazo. Tivemos de aprender a gerir prazos e a cooperar. Foi das raríssimas hipóteses que tive, nesses 5 anos, de fazer algo mais na escola do que passar o dia atrás de uma secretária a ler, escrever e resolver exercícios. Foi dos poucos momentos em que tivemos efectivamente de fazer algo por nós, com coisas que não se aprendem nos livros.

Pude escrever uma história inteira de ficção, onde tentei partilhar o que tinha aprendido em História com os meus colegas. Um outro colega do grupo, que desenhava muito bem, ilustrou-a. No ano em que decorreram os jogos olímpicos de Sydney lembro-me que pesquisei sobre imensos desportos e a sua geração, sobre os melhores atletas, as competições, etc. Fizemos uma compilação desses dados e aprendemos imenso. Noutro ano andei a pesquisar imensa ciência para gerar perguntas para um jogo de tabuleiro tipo Trivial Pursuit, e noutro ano ajudei a tratar do argumento para um filme hilariante com bonecos e também tratei dos cenários e filmagens. Foram coisas simples, mas para mim foi importante, especialmente pelas oportunidades que me proporcionou.

Depois do 9º ano não voltei a ter Área de Projecto. Sei que agora há no 12º e, segundo vi, os trabalhos produzidos na minha escola secundária eram complexos e até tiveram reflexos na comunidade local, nos media locais e até receberam prémios. Sou coordenador de um grupo local de jovens LGBT e ainda há poucas semanas fomos contactados por jovens de uma escola secundária que pretendem desenvolver o seu trabalho de projecto na temática da homossexualidade, efectuando a pesquisa e compilação de informação sobre o tema, realizando questionários na escola e efectuando acções contra a homofobia nesta.

E pronto, é isso.

De resto, e acho que o David sabe isso tão bem quanto eu, as motivações deste Governo não são educativas, são economicistas. As disciplinas até podiam ou podem estar a dar frutos, o Governo quer cortar e vai cortar e vai arranjar forma de justificar esse corte, seja verdade ou mentira. E é sempre assim o esquema.

DL disse...

@ R

Obrigado pelo seu testemunho, mas não há regra sem excepções, e a verdade é que estas áreas não disciplinares têm um péssimo custo/benefício. O retorno que dão é uma milésima do que custam. A maioria dos professores em Portugal sabe disso, e sabem-no desde 2001.
Mas o problema está noutro sitio. Os dois grandes males do sistema educativo são indisciplina a mais, e conteúdos científicos a menos. Ora estas áreas curriculares ampliam a primeira e reduzem os segundos. Qualquer professor lhe diz isso.
Podem inventar o que quiserem, que enquanto não tratarem a indisciplina de forma séria, nada tirará o nosso sistema do fundo do poço.

Em relação ao seu relato, não me leve a mal, mas está contaminado pelo "eduquês": "trabalho de grupo", "pesquisa", "cooperação", etc. Respeito isso, e até reconheço o valor a algumas das coisas que relatou, mas também não pude deixar de reparar num certo desdém com que se referiu ao trabalho de "ler, escrever e fazer exercícios". Talvez sem se dar conta reproduziu a ideologia reinante em Portugal e que tem produzidos os lindos resultados que estão à vista. Os meninos nunca podem ser maçados com "contas", "verbos", etc, o que interessa é a "cooperação" e a "pesquisa". O convívio e o instantâneo, portanto.

Em relação à questão do trabalho sobre a homofobia, sabe que muitas vezes acaba por acontecer um efeito pernicioso: quem não alinha nessas temáticas é "fascista". Já vi isso acontecer com vários outros assuntos. É um dos muitos defeitos da Escola Socialista: quer à força impor as suas ideias, e concepções a todos.

Maria Ribeiro disse...

LEVY: EU SOU TESTEMUNHA DE TUDO ISSO!
CORROBORO E SUBSCREVO!
MARIA ELISA-PROFESSORA DE PORTUGUÊS!

ablogando disse...

Linkado:

http://aperoladanet.blogspot.com/2010/10/procura-se.html

DL disse...

@ Joaquim

thanks :)

DL disse...

Elisa :)

E avisamos que isto ia acontecer. Ninguém nos ouviu.... ninguém nos ouve.