Como se esperava, o primeiro-ministro indigitado continua a seguir a estratégia da manhosice. Depois de ter passado quatro anos a governar com truques e manobras, volta agora a repetir a receita na formação do novo governo. Primeiro finge-se humilde e dialogante, depois recebe os partidos da oposição a quem propõe coligações, farto de saber que eles não as aceitam, e agora surge como o paladino da estabilidade e da responsabilidade, acusando os adversários de não estarem disponíveis para a "estabilidade política".
Quando se está fingir, o fingimento tem de ser total. Como o PS não tem a menor intenção de se coligar com ninguém, finge-se disponível para se coligar com todos. Isso por si só é suficiente para ser aferir a credibilidade deste partido. Resta saber quando é que os portugueses se vão fartar deste tipo de malabarismos.
8 comentários:
É evidente que Sócrates sabia que os outros partidos não iam aceitar coligações. Mas se ele partisse desse pressuposto e não propusesse acordos, logo lhe iam cair em cima, acusando-o ser arrogante, de não ter a humildade de pedir apoio, de desconsiderar os portugueses que votaram nos outros partidos. É a tal situação de preso por ter e não ter cão. E é inteligente da parte dele, destapar o oportunismo daqueles que não querem comprometer-se numa altura em que a crise ainda vai fazer estragos. Mas para se poder afirmar que ele não estava disposto a coligar-se com ninguém, havia que fazer a prova e ela não foi feita. Portanto, estar a acusar Sócrates de fingimento é de pouca seriedade e má-fé. Por último, quem quiser ser intelectualmente honesto, tem que concordar que o PS é de todos os partidos o mais credível, por tudo o que tem feito ao longo destes 35 anos do regime do 25 de Abril.
Meu caro Levi, qundo comecei a escrever não sabia que era professor, mas tive esse pressentimento. Depois confirmei ao ver o seu perfil. Mas, sinceramente e com toda a lealdade, é chocante a distorção que a classe docente utiliza a avaliar e julgar o governo e em especial Sócrates e MLR.
Caro Francisco,
Utilizando consigo o mesmo critério que utilizou comigo, podia dizer-lhe se é do PS, gosta do 1º ministro e logo odeia os professores, e é chocante ver a distorção que os simpatizantes do 1º ministro utilizam para julgar os professores.
Dizer que o PS é o mais credível, ou o contrário custa o mesmo.
Já agora diga-me lá o que é que eu distorci?
Caro Levi,
O que distorceu foi classificar de fingimento a atitude de Sócrates ao pretender fazer acordos de estabilidade. Na verdade, não pode afirmar tal coisa, sem ter a prova de que está a fingir. E agora, a prova já não pode ser feita.
Eu não odeio os professores. O Levi é que está a utilizar um velho esquema de raciocínio "Quem não é por mim é contra mim" ou "os amigos dos meus inimigos são meus inimigos também". Isso não é tão linear.
Eu não odeio os professores. Só que entendo que a qualidade do ensino pode e deve ser melhorada. Tenho a certeza que nem todos os profs têm a mesma capacidade de transmitir conhecimentos, mas o que ouvimos é que sim que têm. Os alunos é que são sempre culpados pelo insucesso e abandono escolares. Sei, porque isso acontece em qualquer sítio, que há quem se aproveite pelo facto de não ser controlado, para descurar o desempenho. Isto não é odiar os professores. Isto é defender que o sistema deve funcionar melhor. Eu penso que a classe docente está muito desligada da vida real. Interagindo, no seu trabalho, com adolescentes, imaturos e inexperientes, não têm a experiência do que é lidar e trabalhar com iguais. E logo o nível de exigência desce. E há sempre tendência para o desleixo. Tem que haver algum contrapeso para equilibrar este desnível dos actores. Acha que isto é odiar os professores? Não me parece.
Caro Francisco
Leia o que eu escrevi. Eu não lhe disse que o Francisco odiava professores. "podia dizer-lhe" foi o que escrevi...
O que o Francisco entende e deseja sobre a melhoria da qualidade do ensino, toda a gente entende. Julgo que não há ninguém que defenda o contrario disso que escreveu.
A questão aqui é outra: o Francisco julga que está a acontecer nas escolas aquilo que o Governo diz que está. A avaliação dos professores, se é disso que está a falar, é uma enorme trapalhada, o governo perdeu uma grande oportunidade de fazer uma coisa bem feita. A ânsia de mostrar quem manda e a eterna mania de culpar os professores por tudo e mais alguma coisa deram este resultado: um processo burocrático gigantesco que já leva mais de 1 ano e ainda não chegou ao fim. Os recursos que consome e entraves que coloca ao funcionamento das escolas, pesam muito mais do que os resultados que alegadamente pretende obter. Se quer saber a minha opinião, este modelo simplificado é muito mais execuivel do que o primeiro, mas mesmo assim ainda tem de ser melhorado, e muito. O que não se percebe da parte de quem governa foi a total inabilidade em conduzir este processo e em querer começar a fazer a casa pelo telhado e por decreto. Julgo que o fizeram, porque julgaram que tinham partido a espinha à classe docente e que tinham a populaça contra ela. Viu-se o resultado.
Sobre o insucesso e o abandono escolar, nunca ouvi ninguém dizer que a culpa é dos alunos. o que oiço constantemente são insinuações como essa que "os professores julgam-se todos bons e que a culpa do insucesso e do abandono é atribuida aos alunos". Sei onde é que isso quer chegar: colocar a responsabilidade nos docentes. Essa conversa já enjoa. Nem todos os professores são bons (embora eu esteja curioso para saber quantas negativas vão ser atribuídas pelo sistema de avaliação inventado pele ministra Lurdes Rodrigues), nem o abandono escolar é culpa dos professores.
Neste momento, grande parte do trabalho nas escolas, é direccionado por força das directrizes do ME para a larga minoria de alunos que potencialmente apresenta insucesso e risco de abandono. Têm um tratamento privilegiado. Ai do aluno que se porte bem, tenha boas notas e venha às aulas, é completamente discriminado pelo ME. Para esses não há papelada.
Ao contrário do que diz, a classe docente não esta desligada da vida real. Alias, se há classe que lida com a vida real é esta. Tudo nos cai em cima e somos chamados constantemente a fazer o papel que devia ser atribuído a outros, nomeadamente pais e assistência social.
E são estes dois factores (focagem apenas nos casos complicados e desvio de funções) que têm feito a exigência descer. E mais quando se lê opiniões como a sua, dá mesmo vontade de desleixar. Porque faça-se o que se fizer, sofra-se o que se sofrer, esforce-se o que se esforçar, o reconhecimento da sociedade é nulo. Gostava de o ver a si e a outros no lugar dos professores, a trabalhar com ameaças físicas e verbais, com alunos indisciplinados e completamente negligenciados pelos pais, debaixo de uma enorme burocracia e de uma total falta de consideração por parte da tutela e depois ainda ter de ler que é "pouco exigente", "desleixado" entre outras coisas.
@ Francisco
Sobre o fingimento de Sócrates, é uma mera opinião. Nem eu posso provar que finge, nem o Francisco pode provar que não finge.
Levi,
O que penso é que o modelo pedagógico de abordagem da educação e da escola devia mudar. Ele ainda reflecte um tempo passado, quando a mãe ainda não trabalhava, era a fada do lar, e tinha um acompanhamento próximo das crianças e dos adolescentes. Hoje, a mulher trabalha o dia todo, tal como o homem, e pouco tempo tem para acompanhar os filhos. Em casa estão todos juntos, quase só para dormir, pelo menos, nos dias úteis.
"Tudo nos cai em cima e somos chamados constantemente a fazer o papel que devia ser atribuído a outros, nomeadamente pais e assistência social". Estou a citá-lo.
Educar é transmitir conhecimentos tanto numa matéria específica como num sentido mais geral, no modo como nos devemos comportar. Os agentes de educação são sobretudo os professores, porque a sua função é, transmitir conhecimentos. São especializados nessa função ou deviam ser. Eles devem ter o repositório de argumentos que "obrigam" os jovens a estudar e a ser bem comportados.
Os pais têm uma profissão, passam a vida a pensar nela, não têm conhecimentos especiais em educação a não ser que sejam professores. Os professores não podem fazer tanto apelo à responsabilidade dos pais. Eles são limitados. Muitas vezes já têm menos habilitações que os filhos, e, em muitos casos, serão facilmente rebatidos e ficarão sem argumentos.
Como sabe, antes recorria-se à violência física para "convencer" os filhos. Hoje isso é proibido.
Os pedagogos há muito que deviam ter concebido e posto em prática um modelo pedagógico adequado aos tempos de hoje.
Os problemas que referiu, ameaças físicas e verbais e outros de insubordinação, têm que ser resolvidos mediante procedimentos previamente aprendidos e usados nas escolas quando necessário. Tem que haver a caracterização de todo o tipo de eventos que podem ocorrer no ambiente escolar e haver respostas preparadas, pelo conhecimento que com a prática se vai adquirindo. Incluindo a intervenção da polícia. Embora quando se usa a polícia, já se esgotou o reservatório de conhecimento que devia existir para resolver todo o tipo de problemas.
Enfim, a escola tem que organizar-se para tudo isso.
Não sei como devem ser organizadas as equipas de intervenção e grupos de trabalho, mas isso tem que ser um conhecimento que as escolas vão adquirindo ao longo de anos de prática. Há que organizar, há que inventar, há que fazer a mudança e deixar de choradinhos.
Sobre a questão da avaliação, provavelmente todos estão de acordo, em sentido geral. O problema será põr em prática. Nenhum modelo será perfeito. Por isso ele pode e deve mudar de acordo com o que a prática ensinar. Como referiu nem todos os professores são bons. Mas como separar o trigo do joio? O caminho faz-se caminhando.
Caro Francisco
Já vi que temos perspectivas diferentes, mas mesmo assim atrevo-me a assinalar algumas discordâncias:
- você assume sem problemas nenhuns que devido à vida moderna, os pais se possam desresponsabilizar dos filhos, passando "a bola" aos professores;
- Pode citar-me à vontade. Mas não é só a mim que cita. Toda a sua argumentária é um conjunto de lugares comuns retirado de manuais de eduquês de má qualidade. Mais uma vez, volta a por as culpas nos mesmos: se os alunos não aprendem é porque os professores "não têm um repositório de argumentos". Adorava vê-lo por isso em prática.
- Entra em contradição quando diz que os pais não têm conhecimentos especiais em educação, a não ser que sejam professores. É que pela maneira como escreve, parece um entendido no assunto. Então os pais não têm, e o Francisco tem?
- Afirma que a tarefa dos professores é transmitir conhecimentos, mas parece não querer reconhecer que estão a ser pedidas muito mais coisas aos professores. Quanto maior for a dispersão de tarefas, menos eficaz é o ensino. Por isso não percebo, por um lado pede professores que ensinem bem, mas por outro apoia políticas que os desviam dessa função.
- Como é que separa o trigo do joio noutros sítios?
Digo-lhe também que o seu discurso redondo, pouco preciso, nebuloso, desresponsabilizante de pais e alunos, é que tem levado o ensino ao estado em que está. Mais, ele é revelador de uma terrível prática: como ninguém sabe como resolver os problemas, atira-se a culpa para cima de quem lá está. Não é por acaso que chama "choradinhos" a algumas das minhas afirmações.
O Francisco aplica uma complacência aos alunos e aos pais, que depois não aplica aos docentes. As pessoas que têm essas ideias, normalmente são incapazes de ouvir os professores e de tentar perceber o que eles estão a dizer. Puro autismo.
Por fim, digo-lhe ainda que se não é professor, é mais um exemplo daquilo que acontece por cá: de educação todos falam parecendo ter conhecimento de causa. Parece que só o que os professores dizem é que está mal. Porque invariavelmente são uns desleixados, antiquados entre outros.
E se não é professor, por uma questão de equidade e de declaração de interesses, deveria dizer a sua profissão, para eu também poder comentar, e dar os meus palpites.
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