quarta-feira, 25 de maio de 2011

Por que Israel não pode voltar às fronteiras de 1967?

O discurso do Presidente Hussein Obama, acerca do processo de paz entre israelitas e palestinianos, trouxe novamente à discussão a necessidade de se regressar às fronteiras de 1967.
Muitas pessoas por desconhecimento e outras por puro calculismo, interpretaram literalmente as palavras do presidente americano, sugerindo que se deveriam aplicar milimetricamente as fronteiras de 1967. Regressar às fronteiras de 1967, tal como  eram, é impossível. Por muitos motivos.
O primeiro de todos, porque qualquer fronteira entre Israel e os palestinianos deve ser negociada através de um tratado de paz e não decretada pelo Presidente Abbas e pelos palestinianos. 
O segundo porque as chamadas fronteiras de 1967 (que na realidade correspondem às de 1949**) são por natureza provisórias, pois resultaram de uma guerra (que Israel não provocou) e do respectivo armistício (assinado em Rhodes em 1949). Não foram objecto de um tratado de paz, vigorando provisoriamente até 1967 - ano em que a Guerra dos Seis Dias alterou novamente a linha fronteiriça para a situação actual. Na Guerra dos Seis Dias Israel venceu em toda a linha, conquistando a Judeia, a Samaria, Gaza, Jerusalém Leste, o Sinai e os Montes Golã. Foi conflito que fixou, ainda que provisoriamente, as fronteiras actuais. Com uma excepção: depois de 1967 a fronteira com o Egipto foi modificada pelo tratado de paz de 1979, o qual  devolveu o Sinai a este país, sendo esta a única fronteira de Israel que resulta de um acordo de paz. Todas as outras resultam de acções militares e englobam territórios em disputa. Não são por isso vinculativas.
Esta natureza das fronteiras remete para o terceiro motivo: não se pode voltar à posição pré-1967, ignorando o importantíssimo facto de Israel ter saído vencedora de todas as guerras. Ora como se sabe as guerras alteram fronteiras, e o país vencedor costuma determinar em que posição ficam os postos fronteiriços. Foi assim com todos os conflitos na História. Tentar modificar as fronteiras tomado a posição do perdedor, e ignorando a posição do vencedor, é no mínimo irrealista.
O quarto motivo prende-se com a segurança. Como o vídeo acima bem demonstra as fronteiras de 1967 são tudo menos seguras. Por que motivo iria a parte vencedora regressar a fronteiras inseguras? O que é que ganharia em troca para além da crescente insegurança?
Por fim existe um motivo demográfico: há 300 mil israelitas a viver nos disputados territórios da Judeia e da Samaria.
Tendo em conta todas estas condicionantes, só há uma solução eventualmente viável para o fim do conflito: a criação, sob condições, de um estado palestiniano dentro de fronteiras quase equivalentes às de 1967, mas nunca iguais.
Essas condições são o reconhecimento da natureza judaica do Estado de Israel, do seu direito à existência, da sua segurança e a demografia existente. Trata-se não só das condições do vencedor, mas também de uma questão de mero bom senso, tendo em conta o historial beligerante do perdedor. 
As fronteiras entre Israel e o Estado da Palestina terão de ser redesenhadas de forma a manter as grandes cidades judaicas da Judeia e da Samaria na posse de Israel. Será o caso de locais como Ariel, Ma'ale Adumin, Modi'in Illit, Gush Etzion, entre outros. O Vale do Jordão, por questões de segurança também terá de ficar em Israel.
O Estado da Palestina poderá eventualmente vir a incorporar localidades maioritariamente árabes que se actualmente pertencem a Israel, nomeadamente na Galileia.
Muitos argumentarão que esta solução não é justa para os palestinianos. Eventualmente não será, mas ela resulta das várias guerras que provocaram e que perderam. Os palestinianos são os perdedores do conflito e  é nessa posição que estão. É esse o preço que pagarão pelo facto de não terem reconhecido Israel, de a terem tentado destruir desde o primeiro dia, e por terem sucessivamente escolhido lideranças incapazes e que desde sempre se entregaram ao terrorismo.

**as designadas fronteiras de 67 são as fronteiras provisórias que vigoraram até Junho de 1967 e que resultaram da Guerra de 1948-49 e do armistício de Rhodes (1949). As fronteiras actuais são as resultantes da Guerra dos Seis dias,  vigoram desde Junho de 1967, mas não são conhecidas como fronteiras de 67. Na prática quando se fala nas fronteiras de 67 está-se a falar das fronteiras pré-guerra dos Seis Dias.   

13 comentários:

Anónimo disse...

Israel devia voltar às fronteiras de 1900.

DL disse...

O caro açoreano vem para aqui com provocações, mas vá-se lá saber porquê, nunca consegue discutir os assuntos colocados.
Um dia destes ponho aqui uma posta sobre a chulice da autonomia açoreana. Talvez nessa consiga dizer alguma coisa de construtivo.

NanBanJin disse...

Bom artigo Levy — como aliás é apanágio desta casa.

Pedia-te só que revisses as datas no início do texto, e apenas porque parece haver aí uma ou outra incongruência, que terá certamente resultado de uma escrita apressada — acontece-nos a todos.

Grande Abraço!

Luís F. Afonso, Japão

DL disse...

Olá Afonso!

Obrigado pelo comentário.
A que datas te referes? 1967? As fronteiras de 1967 são as fronteiras pré-guerra dos Seis Dias. Na prática são as de 1949, mas são comummente designadas por fronteiras de 1967. Era a isto que te referias?

Abraço.

NanBanJin disse...

Meu Caro:

"(...) as chamadas fronteiras de 1967 não resultaram de um tratado de paz, mas sim de uma guerra (que Israel não provocou) e do seu respectivo armistício (assinado em Rhodes em 1949). A situação manteve-se provisória até 1967, ano em que uma nova guerra - a dos Seis Dias (...) "
Foi esta parte que me pareceu algo confusa. Contudo, relendo o texto, admito que o equívoco terá sido meu: numa primeira leitura fiquei com a impressão que no excerto supra citado havia uma gafe ao associar o conflito de '67 ao Armistício de Rhodes, de '49 (referente ao conflito Israelo-Árabe de 1948, certo?). Mas, uma vez mais, admito que o lapso terá sido deste teu leal leitor, e não o contrário. ☺

Abraço! E desculpa lá a 'dica' prévia, precipitada da minha parte.

L.F. Afonso

DL disse...

Obrigado Afonso, isto de facto está um bocado confuso. Logo já altero.

DL disse...

Afonso já modifiquei o texto. Julgo que agora já está perceptível.

Obrigado mais uma vez ;)

LGF Lizard disse...

Os palestinianos e os seus aliados anti-semitas ocidentais (de esquerda e de direita) não querem um acordo de paz, uma Palestina independente ou uma solução de 2 estados.

Apenas querem uma coisa. A destruição de Israel. O resto (independência, direitos dos palestinianos, etc.) não interessa.

Basta ver o interesse que despertam os refugiados palestinianos nos países árabes. São tratados abaixo de cão, sem direitos e sem "apoio" dos anti-semitas cá do burgo.

ablogando disse...

Ora bolas! E eu que estava a pensar reconquistar Badajoz e Olivença!
E devolver os Açores à bicharada...!
Olha, vou antes jantar que hoje já trabalhei muito.

João Ferreira Martins disse...

Há apenas um elemento que não me parece ter ficado muito claro na sua exposição, tal como não ficou aquando das interpretações do discurso do Presidente dos EUA.
Em nenhum momento me pareceu que estivesse em causa naquela intervenção um regresso a '67 em moldes rígidos (como alguns comentadores assinalaram), mas apenas (e na linha de anteriores Administrações) o uso das fronteiras de '67 como princípio de negociação, naturalmente com ajustamentos. Tal formulação não andará muito longe do que aqui se indicou (ou da proposta RECUSADA em Taba).

João Ferreira Martins disse...

E, em linha com o meu comentário anterior, deixo aqui uma interessantíssima análise sobre a questão das fronteiras de Israel: http://www.stratfor.com/weekly/20110530-israels-borders-and-national-security?utm_source=GWeekly&utm_medium=email&utm_campaign=110531&utm_content=readmore&elq=81eac20f97374614b8bb581feab190b1

DL disse...

@ Gajo de Lisboa

Foi precisamente para isso que eu chamei à atenção: muitas pessoas interpretaram literalmente as palavras de Obama como sendo um regresso às fronteiras de 67 em moldes rígidos. Não foi isso que Obama disse.
E foi a argumentação dos que interpretaram as fronteiras de 67 em moldes rígidos que procurei contrariar.

João Ferreira Martins disse...

Caro David,

Tem toda a razão; simplesmente tinha deduzido - erradamente - a ideia contrária do seu texto.
Um abraço,

João Ferreira Martins