O primeiro-ministro Netanyahu propôs ontem à líder da oposição, Tzipi Livni, a entrada do Partido Kadima no governo. A proposta contemplava a oferta de 2 ministérios a este partido: Livni teria uma pasta relacionada com a segurança, e Shaul Mofaz (número 2 do Kadima) seria ministro sem pasta.
Trata-se de mais uma manobra de Netanyahu para dividir o maior partido politico israelita. Desde que iniciou funções tem tentado, sem sucesso, cindir o Partido Kadima. Já por várias vezes propôs a entrada da líder da oposição no governo, chegando a oferecer-lhe 7 ministérios. A estratégia é simples: Livni entra, mas quem continua a mandar é ele. Desta forma Netanyahu concentra em si todos os poderes, e alberga de baixo das suas asas todos os líderes políticos israelitas: Livni, Barak, Lieberman e Yishai.
Por que não deve Livni aceitar integrar o Governo? Por vários motivos, a começar pelo facto de ter sido a mais votada nas eleições de Fevereiro. Ter o maior grupo parlamentar e não liderar o Executivo é um absurdo que poderá ter como consequência o desaparecimento do partido Kadima e o legado deixado por Ariel Sharon.
Só há duas maneiras de escapar ao abraço do urso: ou lidera firmemente a oposição, de maneira a poder substituir Netanyahu quando o governo dele cair, ou entra no Governo e influencia as políticas de maneira a que o centro de gravidade se desloque da direita para a esquerda. Ambas são difíceis de atingir e Livni poderá ter de escolher o menor dos males.
Por que não deve Livni aceitar integrar o Governo? Por vários motivos, a começar pelo facto de ter sido a mais votada nas eleições de Fevereiro. Ter o maior grupo parlamentar e não liderar o Executivo é um absurdo que poderá ter como consequência o desaparecimento do partido Kadima e o legado deixado por Ariel Sharon.
Só há duas maneiras de escapar ao abraço do urso: ou lidera firmemente a oposição, de maneira a poder substituir Netanyahu quando o governo dele cair, ou entra no Governo e influencia as políticas de maneira a que o centro de gravidade se desloque da direita para a esquerda. Ambas são difíceis de atingir e Livni poderá ter de escolher o menor dos males.
6 comentários:
É uma proposta diria eu, indecorosa. Claro que Livni não deve aceitar e deve, isso sim, cerrar fileiras na oposição. A sua oportunidade vai chegar.
Já agora, admito a minha desatenção. Na altura, ouvi que Livni tinha ganho as eleições. Como é que Netanyahu se tornou PM?
@ Cirrus
Ela ganhou de facto as eleições, o Kadima teve 28 deputados contra 27 do Likud. Netanyahu formou governo, porque consegui formar uma coligação (para o governo ter 61 dos 120 deputados). Coisa que Livni não conseguiu, porque se recusou sempre a sentar-se no mesmo governo que o Ysrael Beitenu (de Lieberman) e não quis ceder às extorsões constantes dos ortodoxos sefarditas do Shas. Este partido é especialista em extorquir o Orçamento de Estado a troco de votos. Livni pagou um preço alto pela sua seriedade e decência: passou à oposição. Já a Ehud Barak do Partido Trabalhista não lhe faz confusão nenhuma estar num governo com a extrema-direita e com os religiosos. Opções...
Receio no entanto que Livni não resista aos efeitos da gravidade que no espectro político em Israel estão cada vez mais à direita. No futuro o conflito deixará de ser direita contra esquerda, e será de seculares contra religiosos. A liderar o sector laico da direita aparecerá Lieberman, que apesar de todos os defeitos que lhe colocam em cima, é um laico, favorável a 2 estados e ao casamento civil, só para lhe dar um exemplo.
Devo então entender que a solução para formar governo passa sempre por uma maioria absoluta ou pode formar-se governo com uma maioria relativa?
É uma situação que pode acontecer em Portugal. Se Sócrates se recusar a governar, poderá ser solução para o Cavaco nomear um governo saído do segundo partido mais votado. Obviamente, poderiam haver situações de coligação com o CDS, por exemplo, que fortaleceriam este via. É legal e realmente pode acontecer.
Isto salvaguardando as distâncias entre Sócrates e Livni, claro...
Mas cada vez mais se vê isso, meu caro. E não sei, dadas as circunstâncias, que resultado desta guerra entre a religião e o secularismo poderemos esperar. Espero não regressarmos a situações obscurantistas do passado, mas temo pela sociedade que assim decidir. Sigo com muita atenção a situação no Irão. Parece que há uma batalha dessa guerra a decorrer.
@ Cirrus
Não sei se por lei existe uma obrigatoriedade de ter a maioria na Knesset, mas julgo que sim, pois na prática ela acontece sempre. Cada governo só é formado depois de obter o apoio de 61 dos 120 deputados.
O sistema eleitoral israelita é caso único no mundo, pois é altamente proporcional, funcionando apenas com um círculo nacional. Há apenas uma clausula que exige que cada partido obtenha pelo menos 1,5% dos votos para obter assentos. Este sistema tem pulverizado os mandatos, a ponto de surgirem a desaparecerem partidos constantemente. Os partidos que surgem quase nunca têm representatividade, é o caso do Partido dos pássaros e do Partido dos taxistas, que já desapareceram e eram do domínio da anedota. Mas outros, como o Shinui e o Gil, apareceram tiveram muitos votos e depois desapareceram.
De início (década de 40,50 e 60) a governabilidade era relativamente fácil, pois o maior partido, o Mapai (embrião do Trabalhista), era dominante à esquerda com votações em torno dos 50 deputados. Bastava coligar.se com 1 partido mais pequeno de esquerda ou de direita e o governo esta feito. Na direita o maior partido era o Herut com votações na casa dos 10%.
Com o passar do tempo, quer a esquerda, quer a direita reorganizaram-se: a esquerda juntou-se em torno do Mapai, e formou o Partido Trabalhista, que liderou todos os governos entre 1948 e 1977. Na direita surgiu o Likud, que polarizou este campo eleitoral. Nas décadas de 70 e 80, estes 2 partidos tinham 75% dos lugares. O problema da governabilidade começou com a erosão do partido trabalhista e mais tarde do Likud. Os governos a partir da década de 90 começaram a ser mais difíceis de formar. Com a cisão no Likud, e o surgimento do Kadima a situação não se alterou, tendo estes 2 partidos apenas 55 dos 120 lugares, o que deixa a formação de maiorias nas mãos de partidos mais pequenos.
Se extrapolássemos a situação para o nosso país, poderíamos dizer que o Likud equivaleria ao CDS, o Kadima ao PSD, o Trabalhista ao PS, e Meretz ao BE e o Hadash ao PCP. Os dois últimos são residuais, e o trabalhista em declínio.
Em relação a Portugal, é verdade o que diz, se Sócrates se demitir, o PR pode pedir que se encontre outra solução na AR
Caro amigo, obrigado pelos esclarecimentos. É sempre bom saber como funcionam as coisas efectivamente. Tinha alguns conhecimentos, mas fico mais enriquecido neste campo.
Levy,
se fosse a Livni a Primeira-Ministra acha que ela ia dividir o poder pelos seus Ministros? O Primeiro-Ministro Israelita concentra em si os poderes tal como concentra o Eng. Socrates, Zapatero, Gordon Brown, Berlusconi. É a ordem natural das coisas.
A diferença é que em Israel existem sempre governos de coligação que contam com um grande número de partidos, o que pode enfraquecer o executivo, pela grande dispersidade de politicas defendidas. Para ultrapassar este problema, tem que existir um PM mais forte e que se consiga impor no seio da coligação, caso contrário o país não é governável. Gostava de o ver a defender um PM Israelita forte, porque de quedas de governo está Israel farto (e de PMs fracos também, vejamos Olmert). É precisa estabilidade e é preciso que Netanyahu governe.
O que é que o facto de ter sido a mais votada a impede de entrar no Governo, algo que até foi defendido por muitos dos seus companheiros de partido? Só o radicalismo, o virar costas aos Israelitas, a incapacidade de dialogar e a necessidade de se demarcar e diferenciar do Likud justifica esta posição de Livni. Até Barak, que possui diferenças bem mais vincadas com Netanyahu teve a capacidade de reconhecer que os interesses de Israel estão acima de qualquer tipo de partidarismos. Livni pelos vistos não e está a ser castigada.
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