"A viagem do Presidente Obama à Arábia Saudita e ao Egipto pode ser uma oportunidade. Reflecte a necessidade de uma mudança histórica no Médio Oriente e, ao mesmo tempo, uma oportunidade única de alcançá-la. Estão em jogo várias ideias. Uma delas é a iniciativa de paz do Rei Abdala da Arábia Saudita, adoptada pela liga Árabe em Beirute. Outra é a sábia proposta do Rei Abdula da Jordânia acerca de uma "solução de 57 estados" para conflito israelo-árabe. Ambos os Reis têm razão em ver o destino e o caminho mais seguros para a sua realização. Com apoio do líder do Egipto, parece que é o momento oportuno para pôr fim, de uma vez por todas, ao conflito israelo-árabe. Este objectivo histórico exige uma dupla abordagem. Requer negociações bilaterais entre Israel e cada um dos seus vizinhos: os palestinianos, Síria e Líbano. E, ao mesmo tempo, um processo regional de normalização de relações entre Israel e os estados árabes. Essa arquitectura diplomática pode representar uma estratégia de mútuo ganho para todas as partes. O apoio do mundo árabe proporcionará legitimidade à Autoridade Palestiniana para abordar a difícil tarefa de realizar, e logo implementar, acordos históricos. Ao mesmo tempo, pode assegurar a Israel que, as dolorosas concessões que fará, serão recompensadas por uma paz mais ampla, duradoira e integral na região. Este enfoque já foi estabelecido no internacionalmente aceite "Roteiro da paz".
Este esquema esboça certos passos de normalização em relação a Israel, que devem ser tomados pelos estados árabes à medida que avança o processo bilateral. A sua segunda fase, requer do estabelecimento de um estado palestiniano, com fronteiras provisórias, antes da passagem ao estatuto permanente. Um plano similar foi negociado no passado. Os palestinianos rejeitaram as fronteiras provisórias devido à sua preocupação para que se convertessem em permanentes. Um acordo regional, com garantias americanas e europeias, pode tranquilizar as suas dúvidas. Olhando para o passado, confesso que os planos de paz bem formulados não são, por si sós, suficientes. Com frequência requerem algo mais. Eventos imprevistos decidem, nalgumas ocasiões, o destino da guerra e da paz; como uma reviravolta, podem desarreigar pensamentos persistentes e de longa data. Por exemplo, se as negociações israelo-egipcias tivessem sido guiadas só por advogados, pergunto-me se teríamos alcançado a paz com tanta rapidez. O que levou ao tratado de paz israelo-egipcio, assinado em 1979, foi uma viagem de menos de uma hora: o tempo que levou a Anwar Sadat para voar desde o Cairo até Jerusalém. Essa hora mudou o curso da história no Médio Oriente. Não porque houvesse pressão, mas apenas porque reduziu velhos temores. Capturou as ideias das pessoas e criou um ponto decisivo muito mais poderoso que a pressão externa. Israel e o Egipto estavam surpreendidos pelo tremendo efeito desta viagem. Pôs fim à história de desconfiança e receio.
O pai do Rei Abdula de Jordânia fez algo parecido em 1997, depois de sete rapazes israelitas terem sido assassinados por um soldado jordano. As suas famílias viviam em Beit Shemesh, uma cidade próxima de Jerusalém. O Rei Hussein, rompendo o protocolo, conduziu de surpresa até Beit Shemesh, onde visitou a cada uma das famílias atingidas. Procurava um perdão genuíno. O impacto deste gesto, inesperado em Israel, foi espectacular. Até hoje , essa visita é considerada como um ponto decisivo nas relações entre os nossos dois países. Uma paz regional pode ter o mesmo efeito drástico, sempre que se realizem os preparativos correspondentes. Pode ter o potencial de destruir prejuízos e superar negociações insignificantes. Por mais astutos e eruditos que sejam os negociadores, não podem igualar o impacto de tal gesto. Uma paz regional é mais viável agora que antes. A alternativa à paz regional é uma fissura regional. Muitos líderes árabes percebem a procura de hegemonia do Irão como uma ameaça contra a sua existência e identidade. Para eles, o desafio principal não é Israel, são os ayatollahs iranianos que procuram a dominar o Médio Oriente, usando o terror e as ameaças de armas não convencionais. Israel é, cada vez mais, considerado como uma parte do novo caminho para a uma solução regional. A segurança regional ajudará Israel a garantir o seu interesse principal de segurança. Uma paz regional tratará desafios vitais tais como a escassez de água, a poluição ambiental e a pobreza.
Estes problemas parecem nacionais mas são regionais e, também, o são as suas soluções. A sua resolução depende da ciência e da tecnologia que não conhecem fronteiras. A Europa conservou as suas fronteiras políticas mas abriu-as ao progresso. Também podem fazê-lo as nações do Médio Oriente. Para manter a soprar o vento das mudanças, devemos renovar as negociações bilaterais com os palestinianos, apoiados por claros incentivos económicos e ambientais. A "paz económica" não é um substituto da "paz política", é um catalisador para o progresso. Os líderes regionais devem tratar estas opções seriamente e não como outra sessão fotográfica, como uma discussão substantiva que abra as portas para a uma paz integral e o desenvolvimento económico regional. O espírito positivo da iniciativa árabe de paz, juntamente com o “Roteiro da paz”, abriram uma clara oportunidade. Israel não fez parte da redacção da iniciativa árabe de paz e, por tanto, não deve esperar-se que aceite cada uma das suas palavras. Mas Israel não deve abster-se de impor, noutras partes, a sua própria formulação, e está preparada para negociar de comum acordo. As negociações regionais deveriam começar sem pré-condições. Sua Majestade, o Rei jordano, tem razão ao salientar que esta é uma oportunidade única, e é hora de navegar com o forte vento que, agora, está a soprar para a direcção correcta. Não existe força maior que o poder de uma ideia que deu os seus frutos. Este é o ponto para a paz actualmente. Os passageiros estão prontos. O barco está à espera. É hora de os navegantes tomarem o leme com decisão."
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